Contas falhadas

Ainda no almoço do Grémio com Calisto Elói, de que tenho vindo a falar, resolvi introduzir uma ironia:

“Pelos vistos, a avaliar pelo último Orçamento Rectificativo, os chumbos do Tribunal Constitucional não foram dramáticos, nem exigiram nenhuma terapia de choque irremediável…”

“Mas tu achavas que, praticamente a um ano de eleições, algum Governo vai fazer terapias de choque?” perguntou Calisto, olhando-me quase com pena. “Como eu sou bem uma amostra disso, as ingenuidades politicas são frescores de juventude, que já não se têm, quando chegamos ao Governo”.

“E o que dizes a 8 Orçamentos, em 3 anos?”

“Está bem, ninguém sabe fazer contas, a começar pelos da troika”.

“E  porquê as propostas dramáticas a chumbar pelo Tribunal Constitucional?”

“É dos livros, meu caro”, explicou ele pacientemente, “que em democracia se devem tomar as medidas mais duras ainda longe das eleições, porque o eleitorado se leva depois facilmente com meia dúzia de migalhas de última hora”.

“Percebo isso da Queda de um Anjo”, admiti eu. “Estás transformado num Maquiavel”.

“Nem tanto”, recusou ele com humildade. “Apenas no Calisto Elói que eu sou, com os olhos já abertos pela vida de Lisboa, e dos meandros políticos”.

“Quer dizer que este Governo ainda tem esperança de ganhar as próximas eleições legislativas…”

“Enquanto há vida, há esperança. E de resto não se sabe em que vai acabar a guerra interna do PS. Se a coisa for de feição, talvez ainda vejamos uma descida de impostos em 2015, não como pede o CDS, mas ainda mais clara”.

“E valeu a pena toda a austeridade entretanto feita, com a subida da dívida e a asfixia económica?”

“Tudo vale a pena. E já te detalhei razões parta isso. E se ainda assim o PS se esfrangalhar, e ganharmos as legislativas (ou pelo menos nos tornarmos indispensáveis para viabilizar o próximo Governo), vê tu que Quadratura do Círculo (esta é que é, não a da SIC Notícias) não fizemos, com a Caravana sempre a passar, indiferente ao ladrar dos cães”.

“Já começas a asnear com a língua”.

“É só aqui entre nós. Para o público, vou ser um docinho”.