Não deixa de ter graça ver Costa, que anda há anos à espera da oportunidade para chegar a líder do PS (e que ainda nem tem a certeza de que vai ser capaz de derrotar Seguro nas primárias), a falar agora não só como se já mandasse no PS mas também como se fosse ele a decidir quem é ou deixa de ser o líder dos outros partidos, em particular do PSD. Percebe-se a manobra: ignorar Seguro e tentar fragilizar Passos Coelho. Mas é um pouco básica. E um tanto ingénua ao acreditar que o nome de Rio faz sucesso no PSD.
António Costa parece querer compensar com tiradas mediáticas deste género e com excessos de tacticismo o que lhe falta em conteúdo político e propostas concretas. Porque este manancial de entrevistas, esta torrente de frases repetitivas e ideias ocas de significado – como a de «uma Agenda para a Década» – não conseguem esconder a aflitiva incapacidade de Costa para passar do terreno das generalidades políticas para o campo da concretização de alternativas e soluções. Costa quer «valorizar os nossos recursos, investir nas pessoas, no nosso território, na língua» – um discurso que é igual ao que fazem 9 em cada 10 políticos, de qualquer que seja o partido.
Como se resolve o problema do défice e do desequilíbrio das finanças públicas? «Não se resolve sem uma estratégia de relançamento da economia», diz Costa, que é o mesmo que nada dizer. Como se assegura a sustentabilidade da Segurança Social? «Com um equilíbrio positivo entre a política de rendimentos, entre a sustentabilidade do sistema e o crescimento económico», esclarece, sem nada esclarecer.
E por aí fora: o vazio é o mesmo ao falar do caso BES, da bancarrota de Sócrates ou da despesa do Estado. Costa desenvolve pouco ou nada sobre tudo isso. Mas sabe que, «à direita, as pessoas se revêem cada vez mais em Rui Rio». Não parece uma estratégia muito inteligente. Nem como mera táctica de recurso.
jal@sol.pt