Portugal ainda não manifestou vontade de fazer reembolso antecipado ao FMI

Portugal ainda não sinalizou a Bruxelas a vontade em seguir a Irlanda e poder vir a reembolsar antecipadamente parte do empréstimo do FMI, segundo fonte do Eurogrupo, que admitiu que uma decisão favorável num caso abre precedente para outros países.

A reunião do Eurogrupo desta sexta-feira, em Milão (Itália), vai debater a possível antecipação por parte da Irlanda do pagamento do empréstimo concedido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no âmbito do programa de assistência externa.

Caso Bruxelas venha a dar 'luz verde' a essa possibilidade para a Irlanda, tal abrirá um precedente para que outros países façam o mesmo, admitiu hoje fonte oficial do Eurogrupo aos jornalistas.

No entanto, para já, acrescentou a mesma fonte, as autoridades portuguesas ainda não sinalizaram, formal ou informalmente, a vontade de seguir o mesmo caminho da Irlanda.

Questionada hoje pela Lusa sobre quando Portugal poderá manifestar esse interesse, fonte oficial do Ministério das Finanças remeteu para o discurso da ministra das Finanças no sábado, na Universidade de verão do PSD, no qual Maria Luís Albuquerque disse que Portugal tem "interesse em apoiar os irlandeses em que essa possibilidade exista".

"Também não significa que quiséssemos reembolsar logo os 25 mil milhões, poderíamos começar pelas primeiras tranches que eram mais caras em função do nosso acesso ao mercado, é uma opção que tem valor e estaremos claramente do lado dos irlandeses a apoiar essa iniciativa na Europa", afirmou Maria Luís Albuquerque em Castelo de Vide.

Segundo avançou o Expresso na semana passada, o Governo português estará a ponderar aproveitar a 'aberta' deixada pelo governo de Dublin de reembolsar antecipadamente o empréstimo do FMI para seguir as mesmas pisadas, poupando dinheiro no pagamento de juros. 

A antecipação do pagamento do empréstimo do FMI necessita da autorização da Europa, já que nos contratos ficou estabelecido que, se os empréstimos do FMI fossem reembolsados antes do prazo, os credores europeus teriam o direito de exigir o mesmo.

A reunião do Eurogrupo irá discutir, para o caso Irlandês, se os parceiros europeus poderão vir a abdicar desse direito e aceitar que o FMI seja reembolsado primeiro. 

Para Portugal reembolsar antecipadamente a parcela do FMI no empréstimo da ?troika' (cujo valor total foi de 78 mil milhões de euros), o Tesouro português teria de ir financiar-se ao mercado, aproveitando o momento em que as taxas de juro estão mais baixas. 

No entanto, Portugal deveria ir buscar apenas uma parte do total de dívida que tem perante o FMI, até para evitar que as taxas subam aproveitando as necessidades do país.

A ministra das Finanças admitiu isto mesmo no sábado, ao afirmar que uma coisa é "ir buscar 3 mil milhões é uma coisa e ir buscar 25 [mil milhões de euros] é outra". 

"Primeiro, não sei se seria possível, segundo, seguramente não a este preço", acrescentou.

Lusa/SOL