Aí as riscas eram verticais e a estrela era de David, mas o que interessam pormenores quando falamos de ofensas? Há dias outra t-shirt da Zara foi retirada de circulação. A t-shirt era branca e tinha a frase: 'White is the new black'. As acusações de racismo não se fizeram esperar e a Zara, que tem uma percepção pouco politicamente correcta da moda, lá teve de pedir desculpa por qualquer coisinha. Os casos lembraram-me um episódio de Natal de Southpark, de Trey Parker e Matt Stone. Na aldeia não se entendem com as decorações porque todos se ofendem com a árvore de Natal ou com o presépio, etc. No fim sobra o azevinho que parece inócuo. Mas eis que aparece mais um ofendido no fim do episódio. Nem o azevinho escapa.
Uma investigação independente a suspeitas de exploração sexual infantil na cidade de Rotherham, na Inglaterra, produziu resultados alarmantes. Cerca de 1.400 crianças ao cuidado de instituições foram violadas, espancadas, regadas com gasolina e ameaçadas com armas de fogo ao longo de 16 anos, entre 1997 e 2013. O caso é aberrante e o relatório de leitura indigesta. Ficou claro que as autoridades de Rotherham tinham conhecimento dos abusos, mas que nada fizeram para impedir os crimes e acusar os criminosos. Porquê? Roger Scruton explica longamente num artigo na Forbes. Porque a maioria dos abusadores era de origem paquistanesa. A extrema vulnerabilidade das vítimas, muitas delas raparigas inglesas órfãs ou retiradas aos pais por várias razões, tornou-as pouco credíveis perante uma polícia com medo de ser acusada de islamofobia. A palavra das vítimas e o dever de investigar a fundo não conseguiram fazer frente ao criminoso politicamente correcto.
Isso é que não
Por mais atroz que pareça, a morte assistida, além de ser um tema discutível e pouco discutido, gerou um negócio. Poucos países na Europa têm legislação adequada e nos Estados Unidos são poucos os estados que a autorizam. Curiosamente, o país mais escolhido para ir morrer é a Suíça, não por a morte assistida estar regulamentada mas precisamente por falta de regulamentação. Segundo um artigo na Atlantic, no Reino Unido já se diz 'ir à Suíça' como um eufemismo de eutanásia. São cerca de 600 os casos anuais na Suíça, dos quais 200 são 'turistas'. Não tenho conhecimento dos preços praticados, mas duvido estarem ao alcance de qualquer doente terminal que queira decidir o dia e a hora do fim da sua agonia. Talvez seja por esta questão financeira que países como a Alemanha, a Inglaterra e a França, que contribuem para os tais 200 casos de eutanásia na Suíça, estão a preparar legislação sobre o tema. Se há coisa que não se quer é um monopólio.
Má língua
A panda Ai Hin foi acusada de ter fingido a gravidez para ter direito a melhores condições de vida, i.e., mais bambu e ar condicionado. Parece uma invenção demasiado humana para ser verdadeira. Terá sido assim? O feto é praticamente imperceptível numa ecografia nos primeiros dois meses, segundo nos esclareceu o Washington Post. Mas a minha explicação preferida vem de Suzanne Hall, do instituto de pesquisa de conservação do jardim zoológico de San Diego.
As gravidezes falsas em pandas são comuns porque não lhes custa nada. As fêmeas ovulam um dia por ano durante 36 horas. O acasalamento acontece de dois em dois anos ou de três em três, se entretanto nascerem crias. Digamos que se trata de uma espécie de biologia complicada. As hipóteses de gerar uma cria são aproveitadas ao limite e é aí que aparecem as falsas gravidezes. Pode ser a maneira que a fêmea tem de se preparar para uma gravidez. Antes de difamarem o pobre animal, há que tentar perceber a ciência.
Última e grandiosa
É impossível assistir ao filme O Homem Mais Procurado, de Anton Corbijn, sem nos lembrarmos de que Philip Seymour Hoffman morreu. Acredito que nem Hoffman sabia que este seria o seu último filme, o que faz de qualquer especulação acerca da relação entre a personagem e o actor simplesmente idiota. Parece que voltaremos a ver o actor em mais uma sequela do adolescente Hunger Games a fazer o vilão que esses filmes merecem. Mas, para mim, é uma dádiva que uma das suas melhores interpretações de sempre aconteça logo neste seu último filme. O seu Günther Bachmann, uma versão teutónica do amargamente cativante George Smiley, está à altura dos seus extraordinários colegas, Alec Guiness, Denholm Elliott, Gary Oldman. Sobre o filme, só posso dizer que a crítica portuguesa foi injusta. É uma história de puro John Le Carré, com um elenco perfeitamente sincronizado com o grande Philip Seymour Hoffman. Um filme a não perder.