O aumento das nossa vendas ficou a dever-se ao sector têxtil, em especial às confecções, em contraste com as exportações de petróleo e seus derivados que foram já muito mais fortes do que agora, e responsáveis pela fatia de leão das nossas vendas.
É curioso verificar que o sector têxtil era, à data do 25 de Abril de 1974, um dos principais sectores exportadores, respondendo por mais de 30 por cento das nossas exportações. Então assente numa estratégia industrial baseada numa mão-de-obra intensiva, o sector viria a cair significativamente, não apenas pela perda de competitividade que a ausência de outras mais valias (design, moda) determinou, mas também pela perda dos mercados africanos que absorviam a produção clássica.
A crise que se seguiu no têxtil, com situações muito dramáticas nomeadamente a Norte, viria a ser superada, gradualmente, pelo abandono das estratégias de mão-de-obra intensiva e pela consequente modernização, bem como pela incorporação das mais valias que as procuras mais exigentes requerem. Hoje, relativamente ao importante mercado de Espanha, o têxtil é, muito pela via das confecções, segundo a leitura dos números vindos a público, um dos motores do crescimento das exportações.
Esta capacidade de inverter uma situação desfavorável deve ser evocada como um exemplo quando estamos a registar, de acordo com números do Instituto Nacional de Estatísticas e do Eurostat, um dos maiores défices comerciais da Europa comunitária, só ultrapassado por Reino Unido, França, Espanha e Grécia, e muito distante das boas balanças da Alemanha, da Itália ou até da Irlanda. E deve ser evocada para não cairmos na tentação de culpar a retoma do consumo privado e a aquisição de bens duradouros pelo desequilíbrio registado.
Temos de apostar é no aumento das nossas vendas ao exterior, desafio que também passa pelo sector imobiliário, que também 'exporta' e muito, em especial pela via do turismo residencial, mas não só, como aliás é bem conhecido. Reafirmo, por exemplo, que uma reabilitação séria e profunda dos centros urbanos é uma ponte para novos pilares do mercado imobiliário português, nomeadamente no que respeita à dinamização do mercado de arrendamento urbano e também do imobiliário turístico, neste caso muito virado para a própria internacionalização do sector.
Se o têxtil português, que passou por uma forte crise nos anos 80 do século passado, conseguiu superar-se incorporando mais valias fundamentais para a sua renovação, também o imobiliário (como desejavelmente outros sectores) tem de saber reinventar-se e aproveitar as excelentes condições que Portugal pode oferecer aos mercados externos como país moderno, acolhedor, atraente e competitivo.
É preciso saber ler bem nas oscilações das balanças comerciais.