Devo recordar que Graça Moura, apesar de politico e panfletista muito comprometido (quer como eanista, quer como militante do PSD), em termos culturais, e especialmente literários, foi sempre a personalidade mais aberta do mundo, para quem não contava o menor óbice politico.
Homenageemo-lo pois, tanto quanto possível.
Entretanto, quanto às queixas de editores e livreiros de que estão a sofrer muito com a crise, incluindo nas vendas em supermercado, tenho as minhas próprias reservas. Pedir apoios com argumentos culturais para vendas em supermercados, parece-me disparatado. Imaginar os editores e livreiros que ainda se esforçam por trabalhar em âmbitos de qualidade, já me parece mais complicado.
Mas agora está de moda a ideia de que o Estado não deve condicionar os gostos. E há certos gostos (por exemplo, o das figuras medíocres com notoriedade televisiva em relação aos melhores escritores sem nenhuma notoriedade), que me parecem muito rentáveis, mesmo com a crise, que não merecem apoios.
Como diz Harold Bloom, papa mundial da critica literária, quem gosta das chamadas leituras fáceis ou superficiais (desde as Margaridas Rebelo Pinto, passando pelos Harry Potter, e acabando nos da notoriedade televisiva), nunca passará para a verdadeira literatura. E, correndo o risco de desprezar uma cultura popular do momento (uma moda, portanto), sem saber mesmo se veio para ficar, acho que o Estado, se subsidia, deve mesmo intrometer-se nos gostos, qualificando-os com critérios aceites de qualidade.