A nova namoradinha

Não serão muitos os profissionais de televisão que, com menos de quatro anos de carreira, já é possível identificar sem sequer olhar para o televisor. É o caso de Isabel Silva. Ou Belinha.

Isabel é uma mulher do Norte. Não seria sequer necessário saber que nasceu em Santa Maria de Lamas para o perceber. Basta ouvi-la falar, do alto do seu 1,58m. Apesar de viver em Lisboa há dez anos, o jeito de falar de Isabel continua a denunciar as suas origens. E, ao contrário da esmagadora maioria dos profissionais da televisão portuguesa, Isabel nunca fez qualquer esforço para perder o sotaque. Bem pelo contrário. No CENJOR (Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas) chegou a ter um professor que lhe disse que o sotaque “podia ser um entrave”. Não acreditou. “O que é fundamental é falarmos bom português. Mas eu consigo controlar o sotaque. Se estou descontraída tenho mais sotaque, num registo mais calmo tenho menos. Só que as pessoas estão mais habituadas a verem-me nesse registo divertido. E até acho que o meu sotaque é uma mais-valia. Fico muito feliz quando me consideram uma bandeira do Norte, não o fiz de forma consciente, mas fico feliz”.

Até agora, o sotaque de Isabel fazia-se ouvir nas reportagens do Você na TV, no Somos Portugal e em Juntos no Verão, ao lado de Teresa Guilherme. Mas já a partir desta semana, a jovem volta a integrar a equipa da Casa dos Segredos, mas nesta quinta edição do programa não apenas como repórter. Isabel Silva será a apresentadora dos diários de final de noite.

Certo é que, em qualquer destes projectos, além do sotaque, está sempre presente a descontracção e até uma certa irreverência de Isabel. “Às vezes esqueço-me que estou em frente a uma câmara. Mas ninguém me ensinou a ser assim. Sempre fui muito emotiva, falo com o coração e sou brincalhona, sempre fui, saio ao meu pai. O segredo é ter graça sem ser palhaça. O desafio no entretenimento é não cair no exagero e para isso é preciso ter bom senso. Nunca senti que tinha passado a linha”.

Apesar disso, o facto de, muitas vezes, ir para a rua, de microfone em riste, com perguntas provocadoras, mas sempre com um sorriso, foi aproximando esta mulher do Norte dos espectadores. Uma postura de proximidade que acaba por se reflectir na rua, onde Isabel passou a ser abordada constantemente. “A forma como me abordam na rua tem a ver com a forma como se chega a casa das pessoas, e eu chego muito 'à vontadinha'. E ainda bem porque eu sou assim, espontânea e genuína. As pessoas olham para mim como um elemento da família: sou a Belinha. Ainda no outro dia uma senhora abraçou-se a mim na rua a chorar e a dizer 'a minha netinha!'. E noutro dia, estava a fazer uma caminhada na praia, e uma senhora desata a gritar 'oh Belinha!' e apalpa-me o rabo. As pessoas abordam-me sem filtros, mas com muito carinho”.

Isabel Silva nasceu a 8 de Maio de 1986, em Santa Maria de Lamas, uma freguesia do concelho de Santa Maria da Feira. Habituou-se a brincar na rua e a andar a pé para todo o lado. “Tive uma infância muito feliz e acho que tem a ver com o facto de ter crescido num meio pequeno onde toda a gente se conhece. Brincava na rua, jantávamos nas casas uns dos outros… Além disso, tenho uma família maravilhosa, muito unida e que sempre me apoiou. Sou filha única e fui sempre muito acompanhada pelos meus pais e pelos meus avós”.

Como tantas meninas, sonhou ser bailarina e chegou a ter aulas de dança – do hip hop às latinas. Mas o tal bichinho da televisão já lhe trocava as ideias e, por isso, quando chegou a altura de se inscrever na universidade, a escolha só podia ser Comunicação Social. Mas foi um mero acaso que a fez trocar o Norte pelo Sul. “Nunca pensei em Lisboa, pensei sempre em ir para o Porto. Mas quando me estava a inscrever, estava uma rapariga de Espinho ao meu lado com dúvidas para preencher os impressos e começámos a falar. Ela ia para o mesmo curso que eu, mas para Lisboa. Estivemos ali a conversar e, de repente, pensei: 'Vou para Lisboa!'. Liguei à minha mãe, que é muito mãe-galinha, e disse-lhe que afinal estava a pensar ir para Lisboa. A minha mãe disse que, se era melhor para mim, me apoiava. Rasguei o impresso que já tinha preenchido, comprei outro e inscrevi-me para Lisboa. Durante o curso vivi com essa rapariga que ainda hoje é uma das minhas melhores amigas”.

Aos 18 anos mudou-se para Lisboa – cidade cuja imagem que tinha era pouco mais do que a Expo 98 – e nunca mais saiu. “O amor que tenho pelo Norte é incondicional, tenho de ir pelo menos uma vez por mês lá acima, mas sou muito feliz em Lisboa, que também já vejo como minha”.

Terminado o curso, foi estagiar numa produtora de televisão, onde acabou por ficar um ano e meio, a fazer peças institucionais. “Sentia-me bem nesse papel, mas a verdade é que nunca tinha feito entretenimento. O registo mais sério não me assusta, mas entretanto percebi que a minha praia é o entretenimento, gosto de poder rir e chorar”.

Quando saiu da produtora esteve dois anos como gestora de produto na Vida é Bela, mas sempre sentiu que era “uma fase” e que conseguiria voltar à comunicação social. E assim foi. “As pessoas que trabalharam comigo no meu estágio lembraram-se de mim e acabei a ser chamada para repórter do Você na TV. Sempre dei o litro e mais tarde colhi os frutos”. Logo no primeiro directo que conduziu teve de pôr as suas emoções à prova, ao entregar uma casa a uma espectadora: “Era uma senhora que tinha uma casa que não estava em boas condições e que nós remodelámos. Foi um directo com uma carga emotiva muito forte. Estava a tremer, mas assim que comecei o nervosismo foi à vida”.

Desde então, Belinha tornou-se um dos rostos da TVI. O sotaque, a descontracção, o seu 1,58m e o ar de girl next door, fazem dela uma espécie de nova 'Namoradinha de Portugal'. Na rua ou em estúdio, como repórter ou como apresentadora, tem trabalhado ao lado dos maiores nomes da TVI – de Manuel Luís Goucha a Fátima Lopes. “A minha carreira tem sido crescente, mas tenho os pés bem assentes na terra. Tenho 28 anos, sei que ainda tenho um longo caminho pela frente. Aprendi, e aprendo, muito com o Manuel Luís e com a Cristina, com a Fátima Lopes, com a Teresa Guilherme… O Manuel e a Cristina são fundamentais para definir aquilo que sou hoje, aprendi muito com eles, só de os ver diariamente. Com a Teresa fiz uma dupla improvável, de duas gerações, que ao mesmo tempo são parecidas, até fisicamente. Somos as duas muito carinhosas e muito femininas e a Teresa olhou sempre para mim como apresentadora, não como uma aprendiz”.

Com Cristina Ferreira, a relação acabou por ultrapassar as fronteiras do profissional. Tudo por causa de uma… marmita de almoço. “Desde pequena que sempre fui muito saudável, faço desporto e tenho uma alimentação equilibrada. E sempre levei a minha marmita porque gosto de saber o que como, numa reunião ela viu, gostou do aspecto e disse que um dia podia levar para ela. E assim foi. E ela adorou. Sou uma amante da vida saudável e sentir que estou a inspirar pessoas é maravilhoso”.

A estação de Queluz continua a apostar cada vez mais nela – como fica claro com o arranque da Casa dos Segredos. E Isabel continua, sempre sorridente. Mal termina um programa, telefona à mãe para saber como correu. E sempre que visita Santa Maria de Lamas, é certo que há festa. Mas não vale a pena perguntar pela Isabel. “Ninguém sabe quem é a Isabel. Sou a Belinha e continuo a ser a Belinha. A única coisa que mudou é que agora vou mais vezes à manicure”. 

raquel.carrilho@sol.pt