Brasil: Penúltimo debate com ataques a Dilma e declarações homofóbicas

Os candidatos às eleições Presidenciais do Brasil, marcadas para este domingo, voltaram a encontrar-se ontem ao final da noite na TV Record para mais um debate, o penúltimo antes dos 142 milhões de eleitores brasileiros irem às urnas. A Petrobras voltou a aquecer um debate sem grandes novidades no que respeita à estratégia e às…

Durante pouco mais de duas horas, o debate fez-se à volta de temas como segurança, corrupção, programas sociais e economia. Nos quatro blocos do debate – dois dedicados ao embate directo entre os candidatos, um reservado para a perguntas dos jornalistas da Record e o último para considerações finais dos candidatos e apelo ao voto – Aécio Neves provocou Dilma Rousseff com a questão da petrolífera estatal e o alegado esquema de corrupção, que envolve políticos, também do PT e actuais governantes, denunciado há semanas pela revista Veja. “Infelizmente, as nossas empresas públicas foram tomadas por um grupo político (PT) que as utiliza para se manter no poder. A cada debate há uma nova denúncia sobre a Petrobras”, frisou o tucano.

Na resposta, e usando da figura do direito de resposta, Rousseff rebateu o adversário garantindo que está empenhada no combate à corrupção no Brasil e que foi a própria quem “demitiu Paulo Roberto Costa”, o ex-director da Petrobras que está preso por envolvimento num esquema de desvios na estatal que teria financiado partidos e políticos, e acusou ainda o PSDB de Aécio Neves de querer privatizar a empresa pública. “O senhor assumiria o compromisso de não colocar a privatização da Petrobras no radar?”, questionou a candidata. “Não vamos privatizá-la mas reestatizá-la”, respondeu Neves, que foi ainda obrigado a engolir a nova crítica de Dilma. “Os senhores (do PSDB) foram favoráveis à privatização, venderam parte das acções a preço de banana”, lembrou.

Marina Silva, que vem perdendo terreno para Dilma Rousseff depois de, no final de Agosto, aparecer empatada no primeiro turno com a sucessora de Lula da Silva e vencedora no segundo, esteve menos incisiva. Na primeira ronda, foi chamada ao debate pela candidata do PT, que começou logo por questionar as mudanças de partido – foi militante do PT e, depois, do Partido Verde – e de posições sobre algumas matérias, numa referência à polémica correcção dos capítulos sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo e criminalizarão da homofobia retirados do programa do PSB menos de 24 horas depois de ser apresentado. A ambientalista, na resposta, disse que mudou de partido “para não mudar de ideais nem de princípios”.

Marina Silva, que trouxe ainda a questão energética para o confronto entre candidatos, aproveitou vários momentos do debate repetir alguns chavões, como a necessidade de uma “nova poítica”, “o  fim da polarização” e acusar o PT de estar a lançar “boatos” e “mentiras” sobre a sua candidatura, nomeadamente que vai terminar com os programas sociais, como o ‘Bolsa Família’, um programa de ajuda às famílias pobres criado durante o governo Lula e que beneficia hoje 43 milhões de pessoas. “Não só vou manter todos estes programas como os vou melhor”, assegurou a candidata que em 2010 empurrou Dilma Rousseff para o segundo turno ao conseguir quase 20% dos votos. Atento, Aécio Neves, numa marcação cerrada à candidata que o pode deixar fora do segundo turno, recordou o passado de Marina no partido de Lula. “Sempre fizeram ameaças contra as candidaturas do PSDB, inclusive quando você era do PT”, disse.

O debate, porém, só viria a aquecer nas redes sociais depois de Luciana Genro, candidata do PSOL, questionar Levi Fidelix, do PRTB, perguntar ao seu adversário “porque é que as pessoas que defendem tanto a família se recusam a reconhecer como família um casal do mesmo sexo?”. A resposta de Fidelix incendiou o debate na internet e arrancou algumas gargalhadas no estúdio da TV Record, em São Paulo. “Tenho 62 anos. Pelo que eu vi na vida, dois iguais não fazem filhos. E digo mais: desculpe, mas aparelho excretor não reproduz”, afirmou, para depois relacionar homossexualidade com pedofilia. “Eu vi agora, o Santo Padre, o Papa, expurgar do Vaticano um pedófilo. Está certo. Nós tratamos a vida toda, com a religiosidade, para que os nosso filhos possam encontrar realmente um bom caminho familiar”.

ricardo.rego@sol.pt