Idiota mas não tanto

Trocar um emprego estável numa agência de eventos por uma carreira no mundo da comédia pode parecer uma loucura, especialmente nos tempos que correm. Mas, há um ano, Diogo Faro decidiu dar uma chance àquilo que, aos poucos, se tornou o seu sonho: tornar-se comediante.

Trocar um emprego estável numa agência de eventos por uma carreira no mundo da comédia pode parecer uma loucura, especialmente nos tempos que correm. Mas, há um ano, Diogo Faro decidiu dar uma chance àquilo que, aos poucos, se tornou o seu sonho: tornar-se comediante.

Há quatro anos, quando colocou o primeiro post no seu blogue, Diogo era apenas mais um desconhecido a fazer comentários engraçados no mundo da internet. O projecto, que começou depois de uma amiga o ter aconselhado a fazer “uma coisa mais a sério”, foi baptizado de Sensivelmente Idiota. “Muitas pessoas acham que o 'sensivelmente' tem alguma coisa ver com sensível mas vem de aproximadamente, mais ou menos. Já o 'idiota', quando comecei, sabia que queria fazer uma coisa parva mas chamar-me um idiota é estúpido. Queria acima de tudo escrever aquilo que me apetecesse: uma coisa completamente séria ou um texto só com piadas”.

Começou anonimamente com cerca de duas dezenas de seguidores, número que rapidamente aumentou quando se lançou no Facebook para “chegar a mais pessoas”. Hoje conta com mais de 43 mil.

“Sempre gostei muito de escrever e quando meti na cabeça que o 'Sensivelmente Idiota' era mesmo para levar a sério não podia escrever uma crónica por semana como fazia quando comecei, por isso esforço-me por escrever alguma coisa todos os dias”, afirma Diogo.

Nesta página encontra-se de tudo um pouco. Desde comentários satirizados a situações ligadas à actualidade, críticas a episódios específicos do dia-a-dia ou brincadeiras com estereótipos e personalidades da sociedade portuguesa. “Se calhar às vezes passo por arrogante, e se calhar às vezes sou mesmo arrogante, mas no geral não é isso. Eu gozo com muitas coisas da quais faço parte”, garante o comediante.

Opiniões que já o levaram a ser criticado e até ameaçado, situações com as quais aprendeu a lidar. “A piada que gerou mais polémica foi quando comentei que o pessoal das touradas estava mesmo moderno porque já tinham ligação ao Instagram e Facebook. E disse que estavam tão modernos que qualquer dia até tinham princípios”.

Depois de anos atrás de um computador, Diogo decidiu dar o 'salto' para um palco. Começou a fazer alguns espectáculos de stand-up e tomou-lhe o gosto. “Foi tudo ao mesmo tempo: a página a crescer, o stand-up e a activação de marcas. Pensei que se calhar seria engraçado ser comediante”. Foi então que se despediu e começou a dedicar-se à comédia a 100%.

Diogo dá ainda a cara em vox pops que vai publicando na sua página. Entrevista pessoas na rua sobre determinados assuntos como a co-adopção ou em eventos como o Vogue Fashion Night Out, o Mega Piquenique e os Globos de Ouro – o vídeo com mais visualizações: 155 mil. “Não quero ser pretensioso ao ponto de pensar de que vou mudar o mundo ou que estou a fazer uma grande crítica social, mas se puder passar alguma coisa melhor”.

Sportinguista assumido, participa no programa Futebol de Perdição, na Sporting TV, juntamente com Vasco Duarte, José de Pina e Diogo Beja, o apresentador.

Os espectáculos de stand-up tornaram-se entretanto cada vez mais regulares. Participou no Villari-te ao lado de veteranos como Herman José, Rui Zink e Marta Gautier e esgotou por duas vezes o teatro Villaret, com espectáculos em nome próprio e apresentados em formato de talk-show.

“Percebi que o talk-show é a minha praia, é onde me sinto totalmente em casa. No talk-show sou muito mais eu, não estou preocupado em fazer as pessoas rir a toda a hora como no stand-up. O melhor elogio que me fizeram foi dizerem-me que parecia que fazia aquilo há anos”.

Na passada sexta-feira, estreou-se no The Famous Humour Festival, na LX Factory, novamente com o talk-show, mas trazendo novos temas e novos convidados. “No ano passado, ia a uns barzinhos fazer stand-up e agora vou ao Famous com o Bruno Nogueira e o Miguel Esteves Cardoso, entre outros. É um orgulho enorme, estou muito feliz mas com os pés assentes na terra. Sei que isto é uma fase mas se eu não continuar a trabalhar todos dias, isto vai ao ar num instante”.

Quando se despediu da agência de eventos, Diogo Faro decidiu que iria fazer um balanço ao fim de um ano. “E o balanço não podia ser melhor. A página está a crescer a um ritmo alucinante, esforcei-me para escrever mesmo quando não me sentia inspirado, trabalhei muito. Tenho tido imensa sorte mas penso que isto é o trabalho a dar frutos”.

E parece não ficar por aqui. Já está a escrever um livro que será editado para o ano e tem na manga outros projectos televisivos. Não perdendo de vista aquilo que mais o entusiasma: o talk-show. 

rita.porto@sol.pt