Os @C, que deviam ser a segunda banda a actuar, na sala mais pequena, saltaram para o palco principal em substituição das ausentes Gwyer e Mónica e deram o primeiro espectáculo da noite. A sua vaga no Pequeno Auditório acabou por ser ocupada pelo inglês Mark Fells, que estava no Theatro Circo com uma instalação que sobre relação geométrica entre luz e som, e aceitou tapar o buraco na programação.
A mudança prejudicou ligeiramente os primeiros, que traziam uma actuação mais apropriada à acústica de um auditório do que de uma sala como a do palco principal. Em contrapartida, saiu a ganhar o britânico que conseguiu contornar o minimalismo dominante e apresentou um espectáculo cheio de acelerações contínuas e batidas fortes e ritmadas que, em certos momentos, até chegavam a ser perfeitamente dançáveis.
Fells acabou por ser a surpresa de uma noite que, sem surpresa, teve como ponto alto o concerto dos Roll the Dice. O duo nórdico formado por Peder Mannerfelt e Malcolm Pardon confirmou o estatuto de cabeça de cartaz e fechou a primeira noite com uma actuação que, não sendo memorável, serviu acima de tudo para fazer subir a temperatura de uma sala ainda morna.
Contas por alto, na noite de sexta-feira terão ficado preenchidos uns 300 a 350 lugares, numa lotação total que ronda os 900. A julgar pelo exemplo dos anos anteriores, avizinham-se um sábado e domingo à noite com casa cheia. Até porque, diz-nos Luís Fernandes, da organização, “os passes-gerais esgotaram”.
Voltando aos Roll the Dice, o grupo de Estocolmo tem actuado nos principais festivais do género e veio a Braga divulgar o seu mais recente álbum “Until Silence”, lançado este ano, e que confirma a vocação da banda para contar histórias com um especial detalhe narrativo. A música é permanentemente acompanhada pela projecção de imagens com paisagens sintetizadas, que revertem para os sons primários da electrónica. E há ainda um cuidado cénico evidente, com a entrada e saída de palco dos artistas envoltos em fumo.
E depois há toda uma agitação, que não é propriamente comum neste género artístico. Contrariando a tónica dominante na música electrónica – um artista, de olhos pregados ao ecrã do computador portátil e com uma mesa de mistura ao lado –, os Roll the Dice não pararam de dançar durante toda a actuação. Mas, em contrapartida, passaram todo o concerto de costas para a plateia. Decididamente, a interacção com o público não é o forte deste género musical.
Ainda assim, a dupla sueca vai criando o seu culto em Portugal, já notório pelo agrupamento de entusiastas da banda entre o público. Celeste estuda arte visual, no Porto, e gosta particularmente da “conjunção entre a força da imagem e o impacto da música”. É a primeira vez que vem ao Semibreve e admite que “se não fossem os Roll talvez viesse”. Mais ao lado, João Pedro diz que “acompanha a banda na Internet” e já os foi ver “quando estiveram cá no Primavera Sound do ano passado”.
Além dos seguidores de bandas e apreciadores do género, o Semibreve é um ponto de encontro de quem gosta de música. Presença assídua neste tipo de eventos, Adolfo Luxúria Canibal admite apreciar “mais a música electrónica exploratória do que a de dança, que não suporto”. A música de dança é, aliás, associada pelo músico àquilo que ele chama de “lado negro da música electrónica”. O vocalista dos Mão Morta lembra ainda que a sua banda chegou a entrar no domínio da música electrónica, “mas mais como apoio à nossa estrutura pop-rock”.
Sobre esta edição do Semibreve, Luxúria Canibal – que até agora não falhou nenhuma edição do Festival – considera que está a ter “um início menos espalhafatoso”, lamentando o cancelamento da actuação de Karen Gwyer e Maria Mónica, “que tinha um acompanhamento visual fortíssimo”.
O Festival prossegue este sábado, com os concertos de Patten, Thomas Ankersmith e Demdike Stare, a partir das 21h30, no Theatro Circo. Mais tarde, à 1h30, é a vez de entrarem em palco Sensate Focus e Miles, na Blackbox do GNRation.