"Os meus pais aceitaram porque o meu irmão tinha aberto o caminho. Mas, é verdade que, ao princípio, o meu pai ficou desiludido porque dizia que não serviu de nada ter-nos educado com a fé cristã porque a acabámos por trocar. Só que não era a nossa escolha, submetemo-nos simplesmente à religião que eles nos deram", conta.
Aos 15 anos, Cristina tinha pensado em ser freira, passou mesmo algum tempo num convento e usou a touca de freira, "como hoje usa o niqab", precisa. Leu "a Bíblia, os Evangelhos, o primeiro e o segundo testamento", mas tinha muitas dúvidas que se acumularam quando foi vítima de violência doméstica durante o primeiro casamento, tendo deixado de acreditar em Deus.
"Quando comecei a interessar-me pelo Islão, voltei a acreditar em Deus". E foi como muçulmana que voltou a casar, garantindo que não foi o segundo marido que a influenciou porque se convertera um ano antes de voltar a dar o nó.
A jovem, residente na periferia de Paris, é taxativa quando afirma que "há imensa islamofobia em França", garantindo que "não se sente em segurança", por exemplo, quando vê a circular mensagens nas redes sociais para "espancar as mulheres que usem véu".
A culpa, diz, é dos meios de comunicação social que "exageram", levando a que os franceses ponham "toda a gente no mesmo saco".
"Não se deve misturar o que se passa com muçulmanos em outros países com o que se passa em França. Se todos os muçulmanos fossem como os 'media' os mostram, a França já teria sido atacada há muito tempo e a ‘sharia' [lei islâmica] já estaria cá. Há bons e maus muçulmanos como há bons e maus cristãos, judeus, ateus ou ortodoxos", completa.
Ainda assim, Shérine já foi abordada, nas redes sociais, para ir para a Síria, admitindo que é algo recorrente porque "há muitos estrangeiros que vão para a Síria fazer a ‘jihad', sem falar árabe, sendo difícil encontrar uma mulher" e "os franceses procuram mulheres que estão em França, muçulmanas e dispostas a juntar-se a eles".
"Fui contactada por dois irmãos que estavam na Síria e que procuravam uma mulher disposta a trocar a França por um país muçulmano. Eles combatiam na 'jihad' e a mulher ficaria num lugar da Síria livre a para tomar conta das crianças e de casa. Rejeitei porque nunca se sabe o que realmente se passaria quando lá chegasse", diz.
Por outro lado, Cristina faz questão de sublinhar que "a 'jihad' só se faz quando um país muçulmano é atacado", apontando que "muitos a vêem como um jogo e partem para se exibirem como heróis sem saberem o que é realmente a 'jihad'".
Quanto às acções do grupo Estado Islâmico, a jovem fala em "seita" que "nada tem a ver com o Islão", lamentando que os muçulmanos sejam "julgados por actos aos quais eles próprios se opõem".
Lusa/SOL