O primeiro a entrar em cena, no Theatro Circo, foi o britânico patten, que subiu ao palco acompanhado de duas novidades neste tipo de concertos: uma guitarra e uma voz feminina. O artista, que este ano já actuou em Madrid e Tóquio, depois de já ter passado por Nova Iorque e Londres, é conhecido pela energia vibrante e não desiludiu.
Acompanhado por imagens projectadas no fundo, que alternam entre estática de televisão e o fogo de uma lareira, a música ora tranquila, ora um nadinha mais vertiginosa, encaixaria perfeitamente num qualquer fim de tarde na esplanada de um terraço hotel.
O artista, que se diz influenciado por coisas tão distintas como "os contos labirínticos e evocativos de Jorge Luis Borges" ou as "afinações abertas das guitarras harmoniosas dos Sonic Youth", fechou o concerto debaixo daquela foi, provavelmente, a sucessão de aplausos mais longa da noite.
Mais tarde seria a vez dos Demdike Stare, projecto de dub techno dos britânicos Miles Whittaker e Sean Canty. Ao longo da sua hora de espectáculo, o som agreste foi criando atmosferas plenas de inércia rítmica, que são a sua imagem de marca.
Assumidamente influenciados por música Industrial, Noise, Free Jazz, House e Techno, os Demdike Stare vieram a Braga para arrebatar o público, mas nunca foram propriamente consensuais durante toda a actuação. Houve assobios a meio do concerto, palmas e mais palmas no final, houve quem saísse da sala convencido de que eles “salvaram a noite” e quem ripostasse com um “deviam ter acabado 15 minutos antes”. Resumidamente, ficou a sensação de que, depois dos Roll the Dice terem elevado a fasquia no dia anterior, o público esperava mais destes Demdike Stare.
Pelo meio, houve ainda oportunidade de ouvir o trabalho de Thomas Ankersmit, o holandês que actuou no pequeno auditório do Theatro Circo. Foi o lado mais experimental da noite, num espectáculo recheado de sons ásperos cujo incómodo chegou a roçar o insuportável. O artista assume uma “má utilização propositada do equipamento”, chegando a usar o feedback e as rupturas no sinal para “criar enxames de som densos, mas pormenorizadamente detalhados”.
O efeito era evidente: ao fim de cinco minutos de ruído penetrante, no meio do escuro da sala eram visíveis muitos pares de mãos a tapar os ouvidos. Para além da agressividade sonora, Ankersmit deu também nas vistas pelo instrumento apresentado em palco: um sintetizador modular analógico Serge, cujo emaranhado de fios, à distância, evocava as centrais telefónicas de outros tempos.
A noite migrou depois para o espaço cultural GNRation, onde estava agendada a primeira clubbing night da história do festival. Uma espécie de after-party a evocar as noites de dança ao som de música electrónica que quase encheu a sala Blackbox.
Ao som de Mark Fell – o tal, que no dia anterior foi chamado à pressa para uma actuação heróica no pequeno auditório – e do português Ivvvo, a noite renasceu, introduzindo um elemento ausente nos primeiros dias do festival: a dança. No GNRation não se dançou muito, mas ainda assim o suficiente para dar colorido a uma sala que, nem de propósito, está toda decorada em tons negros.
A clubbing night trouxe a agitação que faltava a uma noite de sábado – tradicionalmente a mais forte do Semibreve – que não teve o fôlego de outras edições. É certo que a plateia do Theatro Circo estava praticamente repleta, mas havia uns quantos lugares vagos nas galerias laterais e, dos três balcões de camarotes, nem metade estava ocupada. E entre os reincidentes do festival, havia a impressão geral de que a afluência de público era, este ano, francamente menor.
Domingo é dia de fecho do Festival Semibreve o que equivale a dizer que há dois nomes sonantes em cartaz. Primeiro, às 18h30, entra em cena o japonês Ryoichi Kurokawa, uma referência da música electrónica, cabendo o encerramento aos Plaid, banda histórica deste género, que sobe ao palco a partir das 19h45.