Tal como a enxurrada que inundou meia Lisboa e levou tudo à frente mais uma vez, há umas semanas o teledisco do single de J-Lo e Iggy Azalea fez o mesmo ao mundo. E sem sequer se ter acanhado perante a 'Anaconda' de Nicky Minaj.
O rabo está in.
Se por um lado a 'Anaconda' de Minaj está carregadinha de sexual innuendo um bocado mais cómico e por assim dizer menos desesperado, no caso de J-Lo, há uma necessidade de afirmação marcadamente sexualizante que não deve – de todo – ser desvalorizada. Embora não tenham comparação, estes dois vídeos são contemporâneos e celebram a moda mais zeitgeistiana de todas: a celebração do derrière.
Nesta questão do rabo que aqui se apresenta e defende muito bem no universo da transversalidade, não houve muita gente indiferente a esta aleg(o)ria que a Diva Latina nos trouxe. 'Booty' é uma música para ver e não para ouvir.
Conhecida por adorar mostrar imenso as carnes, a Jenny lá do bairro mostra com este vídeo que é como o Vinho do Porto e que aos quarenta e cinco está melhor que a parceira de vinte e quatro com quem divide o ecrã. Mas não só, mostra também que tudo aquilo que a tornou uma enorme estrela no panorama de Hollywood (do baby hair à maquilhagem com efeito molhado, passando pelas unhas redondas e todas as referências que associamos aos anos 80, mas que nela são claramente a herança latina aos berros) e ajudou a redefinir um novo cânone morfológico entre as raparigas brancas (e esta referência é muito importante, senão vejamos as polémicas que se sucederam a um artigo controverso assinado pela jornalista da Vogue norte-americana Patricia Garcia sobre, lá está, rabos) é, finalmente, uma tendência: o rabo. Haveria necessidade? Não consigo avaliar de forma isenta. Deixo ao vosso critério. Encaremos aqui a J-Lo como um bode expiatório.
Se pensarmos no hip-hop e nas letras da maioria dos poetas (de Snoop Dogg a Mos Def, é só escolher), sabemos imediatamente que o rabo nunca deixou de se afirmar como uma das partes do corpo feminino mais valorizadas dentro do âmbito dessa cultura não-hermética, daí não ser tão absurdo o vídeo de Minaj ou de outras estrelas mais underground como Lady, por exemplo. Agora, se pensarmos no que é a cultura popular predominante, a branca, chegamos rapidamente à conclusão que as intemporais continuam a ser as modelos esquálidas de 1,80m e 50kg. Ora, na distribuição dos 50kg pelo 1,80m, não só não há rabo, como não há maminhas, porque a carne mal chega para revestir o osso. Mas… E no caso de J-Lo, qual seria o mérito? O facto de já ter atravessado a barreira cultural e de não ser muito facilmente catalogável para além de superestrela.
J-Lo, Beyoncé, Lady, Nicky Minaj, Kim Kardashian, Andressa Soares. Tratamos aqui de uma turma de gente, até agora bem sentada no trono das traseiras, que está, finalmente, na linha da frente de qualquer área de interesse do showbizz. Os rabos têm vindo a ganhar território e a ameaçar paulatinamente a calcificação das magrelas em risco de desenvolver osteoporose. Será 2014, finalmente, o ano do rabo? No que resta do ano, já rebentaram com as costuras das calças e começaram a entrar pela porta grande. Já puseram gente como Tom Ford a fazer números grandes. O rabo como subcultura, como novo underground, tem ganho tanto território que até a Miley Cyrus o usou para se libertar da imagem cândida de Hannah Montana quando tentou twerkar sem rabo absolutamente nenhum nos VMAs (Video Music Awards) do ano passado.
Certos ou errados, os rabos deixaram de ser assunto tabu. Se os enormes seios de Lolo Ferrari tiveram o seu tempo, este é o tempo do rabo. E pode até parecer estranho dizer que os rabos estão na linha da frente, porque eles ficam no verso do corpo e porque se associa com muita frequência o 'atrás' a algo negativo, mas é este o seu posicionamento de agora: à frente. O corpo trendy tem um rabo que salta à vista.