Alguns deles são simples mas eloquentes estatísticas: entre os inquiridos sobre a sensação, 68% dos elementos do corpo clínico de um hospital, 89% dos estudantes de uma universidade ou 90% de um grupo de estudantes de medicina em Taiwan, por exemplo, já tiveram a sensação da tremedeira.
E se os estudos deste género prosseguissem, mais haveria a descobrir, de certeza. Alguns psicólogos referem-se à sensação como algo que se deve ao fenómeno da pareidolia. O nome pode ser complicado, mas é algo que já todos experimentámos de alguma forma. Quando vemos formas em nuvens ou em objectos, ou associamos a um som algo com um significado que ele não tem, estamos sob efeito deste fenómeno psicológico.
Ora, sentir um tremor provocado por um aparelho que não existe entra nesta família de sintomas. “As vibrações-fantasma são uma curiosidade invulgar relacionada com a nossa ligação aos telemóveis”, diz David Laramie, um psicólogo norte-americano citado pela revista Wired. Laramie, continua a publicação, fez a sua tese de doutoramento com base na nossa ligação psicológica a este aparelho, algo ainda pouco estudado e que tem, com certeza, pano para mangas. E foi essa a tese que explorou primeiro o fenómeno da estranha tremedeira. Dois terços das pessoas submetidas a inquérito por Laramie já tinham sentido as vibrações-fantasma. “Fazem parte da paisagem moderna e da nossa relação com a tecnologia”, conclui.
A tese refere que a sensação aumenta de intensidade e de frequência entre os mais jovens. Nada mais natural, entre quem cresceu a conviver com telemóveis, que ter uma experiência quase alucinatória com os aparelhos. Os mais velhos, embora com menos frequência, adquiriram a sensação ao longo do tempo. Laramie acrescenta algo surpreendente: estes últimos começaram a sentir os tremores logo que tiveram o seu primeiro telemóvel.
A neurologia dá outras pistas sobre o assunto. A nossa pele tem dois tipos de receptores capazes de detectar vibrações, os corpúsculos de Meissner (que identificam as vibrações lentas) e os de Pacini, especializados nas de alta frequência. Como os telemóveis vibram em frequências intermédias, atingem em cheio a nossa sensibilidade, sendo facilmente detectáveis. Temos ainda a tendência para tentar estabelecer padrões com os nossos sentidos – o que é, de resto, uma vantagem para a progressão do nosso conhecimento – e daí que tentemos preencher as lacunas de algo a que falta significado. É o que parecemos fazer também com os telemóveis ausentes – encontrar padrões, mesmo onde eles, por vezes, não existem.