Descreve uma panóplia de sensações. Qual foi a que mais o marcou?
É difícil dizer. Desde a primeira notícia até ao próprio processo, é difícil dizer qual foi mais marcante. Até porque é difícil distinguir as coisas. É uma mesma sensação.
Um contínuo?
É um contínuo que vai tendo picos de intensidade. Há momentos de alguma acalmia, mas é como digo no livro, é uma experiência de montanha-russa.
Quando se lembrou de visitar as outras unidades neonatais de Lisboa?
Tive a ideia na sequência da frustração que era encontrar em Madrid informação credível e fidedigna sobre o que é um bebé prematuro e as complicações que lhe estão associadas. Os médicos, na verdade, têm pouco tempo para falar connosco, para nos explicar as coisas, são cinco minutos por dia, se tanto. É uma grande sensação de impotência, porque a informação não é muita e temos imensas perguntas para fazer. Eu naturalmente comecei por ir ao Google, à internet, mas depois aquilo é uma selva e é difícil uma pessoa orientar-se. Procurei também nas livrarias, e em Madrid não encontrei praticamente nada. Em Portugal também nada, absolutamente. Não sei se entretanto apareceu alguma coisa ou não.
Há algumas associações…
Mas era importante que houvesse uma espécie de apoio para os pais. Imagino que nenhum pai esteja preparado para esta situação, pelo menos no caso de um primeiro filho. Ninguém se prepara para isso e a ideia surgiu daí. Tentei propô-la a algumas editoras, que foram adiando, e depois o dr. António Araújo, da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) contactou-me a convidar-me a escrever um livro para a fundação. E deu-me total liberdade para escolher o tema, dentro daquilo que são os objectivos e os âmbitos de intervenção da FFMS.
Então escolheu este.
E ele disse-me que iam lançar uma colecção de grandes reportagens e o tema acabou por se encaixar nesta nova colecção. Não era propriamente o livro que eu tinha idealizado, mas no fundo acaba por cumprir com os mesmos objectivos. Se for lido por um pai ou uma mãe de um prematuro, se estiverem a passar por essa situação, acho que conseguem ter mais ou menos uma ideia do que os espera e quais os problemas que podem surgir.
No fundo acabou mesmo por preencher aquela lacuna de informação que sentiu no início?
Sim, é informação dirigida a não-técnicos. Dentro da literatura especializada da medicina neonatal há imensa coisa, mas quase ninguém vai ver os artigos científicos sobre isso, não vão conseguir decifrar aquela linguagem técnica.
Descreve o Santa Maria, onde a sua filha esteve internada, e uma série de unidades em Lisboa. A MAC impressionou-o particularmente?
Sim. Quando se entra no serviço, parece uma nave espacial, com os apetrechos técnicos muito desenvolvidos.