As declarações foram prestadas à CNN, a poucos dias das eleições presidenciais uruguaias, marcadas para domingo. A coligação de Mujica, a Frente Amplio, é dada como favorita nas sondagens mas não deverá evitar uma segundo ida às urnas entre o seu candidato, Tabaré Vázquez, e o da oposição, Luis Lacalle Pou. O actual Presidente não pode recandidatar-se.
Ao seu sucessor, ganhe quem ganhar, Mujica pede “sobriedade”, modéstia e lealdade aos valores republicanos.
“As repúblicas vieram ao mundo para dizer não à monarquia, ao direito de sangue, e para subscrever que os homens basicamente são iguais, mas se os outros se desviam da essência do republicanismo, eu não tenho culpa”, explicou na sua defesa da política.
Habitando numa casa modesta e tendo recusado quaisquer regalias associadas com o exercício do cargo de Presidente, Mujica sempre lamentou que o staff que rodeia os seus homólogos noutros países lembre “as velhas cortes”. Para o uruguaio, “um Presidente é um funcionário que o povo elegeu para um momento e uma etapa” – nada mais.
A crítica de Mujica ao consumismo e ao materialismo também se aplica à vida privada. “Tu não podes ir a um supermercado e dizer: venda-me mais cinco anos de vida”, explicou o Presidente cessante.
Mujica, o antigo opositor da ditadura militar que esteve preso vários anos e que escolhe Nelson Mandela como herói político, faz um balanço positivo dos seus cinco anos no poder em Montevideu: menos pobres e menos sem-abrigo. Além-fronteiras, a era Mujica é sobretudo recordada pela legalização da produção e consumo da cannabis, cujo comércio é controlado pelo Estado.