Dilma Rousseff chega ao final do segundo turno das presidenciais com uma ligeira vantagem sobre o seu adversário. Duas sondagens publicadas ontem dão conta disso mesmo: na projecção do Ibope, a petista soma 53% das intenções de voto contra 47% do tucano; numa outra sondagem, do instituo Datafolha, Dilma consegue 52% das intenções de votos e Aécio chega aos 48%. Neste último caso, há um empate técnico entre os dois candidatos já que o dois resultados estão dentro da margem de erro da sondagem, que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
A votação em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, onde votam 32 milhões de eleitores (22,4% do total do país), e Minas Gerais, o segundo maior colégio com 15 milhões de eleitores e onde nasceram os dois candidatos, deverão ser determinantes para ditar a vitória de um dos candidatos que estão na corrida. Durante as três semanas de campanha para o segundo turno, que se disputa hoje, Dilma e Aécio procuraram manter os votos conseguidos na primeira volta, a 5 de Outubro, e disputaram 36,8 milhões de eleitores que concentram os seus votos nos candidatos que já não estão na corrida ou que votaram em branco ou nulo. A maioria destes eleitores está precisamente nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro (12 milhões de eleitores) e Pernambuco (6 milhões).
Esta é a primeira vez desde a redemocratização do país, na década de 80, que um líder que venceu o primeiro turno não tem assegurada à partida a sua reeleição. Dilma Rousseff venceu o primeiro turno com 41,59% das intenções de voto e Aécio Neves chegou aos 33,5% do total dos votos válidos. O PT está no poder há 12 anos, desde que Lula foi eleito em 2002 e reeleito em 2006, deixando como sua sucessora a ainda Presidente do Brasil eleita em 2010, num segundo turno disputado com José Serra, do PSDB. Este partido, de resto, não tem conseguido aprovação dos brasileiros nos últimos três actos eleitorais e em todos tenta eleger um sucessor de Fernando Henrique Cardoso, que governou o país entre 1995 e 2003.
A campanha para a eleição do 37.º da República Federativa do Brasil aconteceu em condições particularmente inesperadas. A morte de Eduardo Campos, a 13 de Agosto num acidente aéreo em Santos, no litoral do São Paulo, fez subir para a liderança da lista do PSB Marina Silva, a ambientalista que há quatro anos obrigou Dilma Rousseff a disputar o segundo turno com os seus 20 milhões de votos. A partir daí a reeleição da sucessora de Lula da Silva no primeiro turno ficou logo afastada. A disputa fez-se então pelo segundo lugar com Marina e Aécio a disputaram uma passagem ao confronto directo com Dilma Rousseff na segunda volta.
Disputada até à última hora, a campanha terminou com a publicação de uma polémica reportagem da revista Veja, através da qual Dilma e Lula são acusados por um intermediário de um esquema de desvio de dinheiro da Petrobras, Alberto Youssef, que está preso, de não só conhecerem o esquema como de também de terem beneficiado da corrupção na petrolífera estatal. A candidata do PT referiu-se à notícia como “terrorismo eleitoral” e já anunciou que processar a publicação. Aécio Neves tentou tirar partido da notícia no último frente-a-frente da TV Globo, na sexta-feira, questionando a sua adversária: “Sabia ou não do esquema de corrupção na Petrobras?”. Dilma não respondeu e, mais uma vez, acusou a revista de a perseguir.
Dilma Rousseff e Aécio Neves chegam ao dia grande da democracia brasileira com uma taxa de rejeição de 39% e 41%, respectivamente. Nas três semanas de campanha, a candidata à reeleição apostou numa estratégia de desconstrução do adversário – lembrando a derrota de Aécio Neves em Minas Gerais, estado que governou entre 2003 e 2010 e comprando os indicadores macro-económicos (inflação e desemprego) com os do tempo de Fernando Henrique Cardoso, que liderou o Brasil entre 1995 e 2003 -, enquanto o tucano explorou o baixo crescimento do Brasil (em 2010 crescia 7,5% e este ano deverá ficar pelos 0,3%) a inflação, na casa dos 6% e no esgotamento de um partido que está há 12 anos no poder e surge associado a escândalos de corrupção.
Dilma Vana Rousseff, economista, tem 66 anos. Foi ministra-chefe da Casa Civil (2005-2010) e ministra de Minas e Energia do Brasil (2003 e 2005) nos governos Lula. Exerceu ainda cargos nos governos estaduais de Rio Grande do Sul e Porto Alegre, entre 1988 e 1999.
Aécio Neves da Cunha, economista, tem 54 anos. Exerce ainda o cargo de Senador por Minas Gerais, cargo para o qual foi eleito depois de governar o estado. Presidente nacional do PSDB, desde o ano passado, já foi presidente da Câmara dos Deputados (2001 a 2002), deputado federal por quatro mandatos consecutivos. (1987 a 2003)