Tal como o totalista de 190 milhões de euros de Castelo Branco, este operário fabril com o 6.º ano de escolaridade também esteve ‘desaparecido’ durante algum tempo. “Como é que eu havia de aparecer se estava a dormir”, recorda ao jornal i. Na véspera, tinha feito o turno das 20h às 6h na fábrica de têxteis onde trabalhava.
Só à hora do almoço é que se soube que o vencedor do Euromilhões tinha comprado o boletim num quiosque em Moreira de Cónegos, onde Domingos habitualmente apostava. Paulo Pereira, o sócio, ligou-lhe a perguntar se já tinha verificado a chave e nem quando foi buscar o boletim ao porta-luvas imaginou o que estaria para acontecer.
Paulo ditou-lhe os números. Eram os mesmos que tinha escolhido na terceira coluna: 1, 4, 24, 34, 36 e as estrelas 6 e 8. “Uma pessoa apanha um choque, ninguém imagina. Se quando numa raspadinha sai 50 euros ficamos todos contentes, imagine”, afirma o totalista.
Mas quando chegou ao quiosque para verificar a chave, voltou para trás. “Já lá estava toda a comunicação e entrei em pânico. Fugi o mais rápido que pude”. A tentativa de anonimato, porém, foi em vão. O sócio, proprietário de uma café, já tinha ligado para o estabelecimento a contar as novidades.
Por isto tudo, compreende a atitude do vencedor de Castelo Branco: “Acho muito bem que se proteja, a comunicação cai-nos em cima e na sociedade em que vivemos não sabemos quem nos rodeia. Quem tem família e filhos pior. Nós protegemo-nos mas as crianças não”.
Pouco tempo depois, Domingos Oliveira despediu-se e partiu com a família – com a mulher e os dois filhos, na época uma com sete e outro com quatro anos – para o estrangeiro. Refere ao i que ‘nunca sentiu pressão’ mas ainda recebeu algumas ameaças e assédios. Houve pessoas a pedirem-lhe ajuda e perdeu alguns amigos: “Como se costuma dizer, se queres perder um amigo, empresta-lhe dinheiro”. E apesar de ter pago a totalidade do boletim vencedor, nunca pensou em quebrar o acordo que fez com o amigo: “Não conseguiria dormir descansado”, afirma.
Mudou de casa, fez um ‘upgrade’ no carro, viajou por onde quis e ainda ajudou muita gente, entre os quais os sete irmãos e dois cunhados a quem deu 250 mil euros e um terreno – pensou em dar 500 mil mas não quis “estragar os irmãos”.
Mas o Sr. Euromilhões, como ficou conhecido, garante manter os pés no chão e não ter cometido nenhuma extravagância. “Sinto que temos de guardar um pouco as coisas para a hora certa. Somos muito novos: eu tenho 41 anos e a minha esposa 38. Temos de andar devagarinho e fazer as coisas com pés e cabeça. Quanto maior é o património, mais gastos temos”.
O seu maior investimento foi num parque industrial com 25 pavilhões em Gandarel, que estava parado há uma década. Actualmente, são conhecidos como os pavilhões de Euromilhões, onde funcionam várias empresas de diferentes sectores que dão emprego a mais de mil pessoas.
Até hoje, Domingos – que continua a jogar semanalmente – nunca conheceu mais nenhum totalista e gostava de os juntar para debaterem “ideias de negócios”. E deixa um conselho a outros vencedores do Euromilhões: “Aconselho todos os vencedores a ter muito cuidados com os bancos”.