O norte-americano Keith Jesperson ficou conhecido nos anos 90 como ‘O Assassino da Cara Feliz’. Violou e matou oito mulheres nessa década. Mas Keith era também um marido e um pai de três crianças – duas raparigas e um rapaz. A sua filha, Melissa Moore, contou à BBC o que significa ser filha de um serial killer e como descobriu o lado mais obscuro do seu pai.
“Eu adorava o meu pai, mas não gostava muito de estar ao pé dele. Deixava-me ansiosa. Nunca abusou de nós fisicamente, tinha apenas um pressentimento que algo não estava bem. Tentei contar isto uma vez ao director da minha escola, mas acabei por não consegui explicar-me como deve ser”, recorda Melissa.
“O que me deixava muito desconfortável era ao facto de o meu pai falar explicitamente sobre as suas relações sexuais. Contava pormenores sobre as noites que tinha passado com a minha mãe e assediava as mulheres que passavam na rua”, confessa.
Foi numa ida a um típico ‘diner’ que Keith começou a revelar o que fazia: “Nem tudo é o que parece Missy (…) Tenho uma coisa para te contar. É muito importante… Mas eu não te posso contar. Se o fizesse, tu ias logo contar à polícia. Eu não sou quem tu pensas, Melissa”, confessou Keith durante um pequeno-almoço entre pai e filha, num dia de Outono de 1994.
O pai acabou por não continuar a conversa naquela manhã. Ainda hoje Melissa se questiona sobre o que teria acontecido se Keith lhe tivesse revelado o seu segredo: “Será que o meu pai me teria matado se eu soubesse?”, pergunta hoje em dia a mulher norte-americana de 34 anos.
Alguns meses depois desta troca de palavras, a mãe de Melissa reuniu os filhos e contou-lhes que o pai tinha sido detido por suspeita de homicídio. “Assim que soube, fui a correr para a cama e desatei a chorar. Como é que o meu pai tinha conseguido fazer uma coisa daquelas?”, questionou-se Melissa na altura.
Keith foi preso pela morte da sua namorada, Julie Winningham, algo que Melissa só soube mais tarde, já que a sua mãe não lhe contou absolutamente nada sobre os crimes cometidos pelo pai. Para se informar, costumava ir à biblioteca para ler as notícias sobre o seu julgamento. Foi assim que descobriu que o pai confessara ter assassinado oito mulheres.
Hoje em dia, Melissa relaciona alguns episódios da sua infância ao segredo de Keith, como a vez em que o seu pai agarrou nos gatinhos que tinha acabado de encontrar e os torturou à sua frente. “Lembro-me que de ver a sua cara de prazer enquanto eu gritava e chorava. Dias depois fui encontrar os corpos nas traseiras de nossa casa”.
Noutra ocasião, Keith gabou-se de saber matar alguém e “safar-se”. “Ele começou a dizer-me que bastava cortar as pontas dos dedos das pessoas, para que não existissem impressões digitais, e que era necessário usar sapatilhas de ciclismo para não deixar pegadas nítidas”, explica a mulher norte-americana.
Melissa diz que existiam dois Keith Jesperson. “Consegui ver algumas coisas do homem mau, mas também me lembro do meu pai chegar a casa e ser dedicado e carinhoso connosco. Às vezes parecia ser um excelente pai”.
“O filho de Winningham disse que o meu pai era um monstro e que devia ser executado. Eu sabia que ele tinha todo o direito de dizer o que disse, mas deixava-me o coração despedaçado ouvir tal coisa. Ele era meu pai”, disse à BBC.