Em declarações à agência Lusa, Milton Costa realçou que "a humidade atmosférica deixa sobreviver as gotículas" com bactérias, libertadas "sobretudo pelas torres de ar condicionado", arrefecidas a água.
"Com estas temperaturas e com a humidade que está", verificam-se condições "muito mais propícias à disseminação da bactéria", adiantou.
Com mais humidade atmosférica e temperaturas que poderão rondar os 17 graus centígrados, "as gotículas não secam e sobrevivem mais tempo".
A aspiração das gotículas contaminadas "é a única maneira de contrair esta doença", explicou Milton Costa, que preside, desde Agosto, à Comissão Internacional de Sistemática de Procariotas, organismo responsável pela descrição e classificação de bactérias, com sede no Reino Unido.
"Não temos de nos preocupar muito em encontrar legionellas em água fria, abaixo dos 17 graus", esclareceu. Estas bactérias "sempre existiram" na natureza.
"Mas criámos condições para o seu desenvolvimento com a nossa maneira de viver", disse o investigador, destacando o "ar condicionado com arrefecimento a água" e as caldeiras de distribuição de água quente por grandes edifícios, tubagens diversas e chuveiros de duche, entre outros sistemas.
Os ambientes naturais quentes "são habitados por legionellas, mas raramente causam doenças", sublinhou Milton Costa, que é também director do Laboratório de Controle de Qualidade Microbiológica do Biocant, parque tecnológico de Cantanhede.
Na semana passada, o Biocant "recebeu umas amostras" provenientes da zona de Vila Franca de Xira, onde foram detectados os primeiros casos do surto de legionella, as quais, "para já, estão negativas", acrescentou.
Segundo Milton Costa, a doença "não se contrai" pelo consumo de águas minerais engarrafadas. "Isso é impossível", frisou.
Também nas termas portuguesas, a probabilidade de ser contraída a doença é muita baixa.
"Posso garantir que as termas que eu conheço têm muito cuidado com as legionellas", referiu, ao indicar que actualmente os operadores "têm muito cuidado", para não correrem o risco de ver as unidades encerradas por força da lei.
O Laboratório de Microbiologia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, dirigido por Milton Costa, possui a maior colecção portuguesa de bactérias, que inclui estirpes clínicas e ambientais da legionella, que pode causar pneumonias atípicas de consequências graves para os humanos, incluindo a morte.
Aquele laboratório conserva amostras de estirpes, conservadas a 80 graus negativos, "principalmente de nascentes termais de vários países", como Estados Unidos, Islândia, Itália, França, Espanha e Portugal, entre outros, mas também colhidas em ambientes artificiais, que estão disponíveis para investigadores de todo o mundo.
Lusa/SOL