Quase 81% dos catalães que votaram querem um Estado independente

Dos poucos mais de 30% dos catalães que participaram ontem na consulta popular sobre a independência da Catalunha, quase 81% (80,72%, mais de 1,6 milhões de pessoas) votou “sim” a favor da separação de Espanha.

Quase 81% dos catalães que votaram querem um Estado independente

No boletim de voto, os eleitores tinham duas perguntas: “Quer que a Catalunha seja um Estado?” e, se sim, “Quer que a Catalunha seja um Estado independente?”.

Entre os 2,25 milhões de catalães que decidiram participar no processo, que depois da proibição do Tribunal Constitucional perdeu o estatuto de referendo e passou a consulta sem valor jurídico, 10,11% disseram que queriam que a Catalunha fosse um Estado, mas não independente. Apenas 4,55% responderam negativamente às duas questões.

O Presidente do Governo catalão, Artur Mas, considerou o processo uma "êxito total", embora o número de eleitores tenha superado apenas pela margem mínima o número de votantes que os quatro partidos independentistas somaram nas eleições autonómicas de 2012. Então, a Convergência e União (CiU) de Artur Mas, a Esquerda Republicana, a Alternativa de Esquerdas e a Iniciativa Verde da Catalunha somaram 2.080.523 votos.

Mas se nas eleições locais a soma de dois milhões de votos foi suficiente para os independentistas ficarem com uma maioria de 57,76% entre os 3,6 milhões que foram às urnas, na relação com a totalidade dos eleitores catalães a cifra de ontem não ultrapassa os 35,9%, pois segundo os últimos censos na região, a Catalunha tem 6.228.531 eleitores. 

A baixa participação foi recebida com alívio em Madrid, onde o Governo de Mariano Rajoy fala de um “exercício antidemocrático e inútil, que não tem qualquer valor jurídico”.

Mas o líder do governo regional mantém que “este 9N figura como uma data já inesquecível na história da Catalunha”. Artur Mas descreve as reacções de Madrid contra a consulta como “intolerantes” e exigindo “respeito”.

Mas defende que os resultados abrem a porta a uma negociação com o Governo de Madrid que permita convocar uma “consulta definitiva”, embora no Palácio da Moncloa a posição, para já, seja de que “a atitude e o comportamento do Presidente da Generalitat dificulta muito o futuro”.

Em tom de ameaça, o líder da CiU voltou ontem a encarar a hipótese de derrubar o seu Governo de forma a convocar umas eleições antecipadas na Catalunha que sirvam de referendo à questão da independência: “Existe essa possibilidade, se não houver forma de fazer um referendo acordado”, disse Mas.

nuno.e.lima@sol.pt