A ter sucesso – a chegada deste veículo à superfície do cometa está prevista para as 17h – será a primeira vez que um objecto de fabrico humano chega a um corpo celeste desta natureza. A ESA acompanha e explica neste link, em directo, todos os detalhes da missão.
A sonda Rosetta partiu da base de Kourou, na Guiana Francesa – ponto de lançamento de todos os veículos do programa espacial europeu – a 2 de Março de 2004 e após uma viagem sem mácula, chegou ao 67P/Churyumov-Gerasimenko a 6 de Agosto deste ano, entrando na sua órbita a 10 de Setembro.
O programa começou a ser definido em 1993 e o lançamento, inicialmente previsto para 2002, foi adiado devido a uma falha no foguetão Arianne que iria transportar a sonda. A escolha do Churyumov-Gerasimenko como ponto de estudo deu-se a partir de imagens do telescópio espacial Hubble, numa das sete observações que se fizeram dele desde a sua descoberta. Foi a partir desta, também, que se pôde estimar a dimensão deste calhau cósmico gelado e misterioso: uns meros 3X5 km definem este objecto irregular.
Pela sua localização, este cometa apresentava diversas vantagens. Além de ser um dos ‘despojos’ rochosos resultante da formação do sistema solar – e uma aproximação a ele permitiria, evidentemente, uma maior compreensão das origens do nosso sistema – o 67P, pode ler-se no site da ESA, é um “visitante regular do interior do Sistema Solar” e “orbita o Sol uma vez a cada 6,5 anos, entre as órbitas de Júpiter e da Terra”. A sua descoberta foi feita em 1969 num observatório do Cazaquistão, por dois astrónomos soviéticos, Klim Churyumov e Svetlana Gerasimenko, levando, como acontece com todos os cometas, o apelido dos dois.
A sonda já recolheu diversas imagens do 67P e, aconteça o que acontecer ao Philae, manterá a órbita sobre o cometa até ao fim de 2015. A ESA sublinha que a Rosetta vai alcançar diversos marcos históricos: já é a primeira nave espacial a orbitar o núcleo de um cometa, e acompanhou a sua rota em direcção ao interior do Sistema Solar. Além disso, é a primeira sonda a examinar, de uma distância privilegiada, como um cometa gelado é transformado pelo calor do Sol.
Mas, acima de tudo, se a missão continuar a correr bem, os dados da Rosetta poderão ser comparados com os de outra missão, a Giotto, além do que já foi observado a partir de bases da Terra. E o que têm revelado esses dados? Que “os cometas contêm moléculas orgânicas complexas – compostos que são ricos em carbono, hidrogénio, oxigénio e nitrogénio”, responde a ESA. Isso mesmo: os elementos que constituem os ingredientes necessários à formação da vida, algo que os astrobiólogos (biólogos que estudam a possibilidade de vida fora do nosso planeta) já têm verificado em amostras de cometas que embateram na Terra.
A inspiração para o nome da sonda remonta às invasões napoleónicas ao Egipto. Em 1799, soldados franceses descobriram inscrições numa pedra próxima da cidade de Rashid (Rosetta), no Delta do Nilo. Essas inscrições, feitas em hieróglifos mas também em grego antigo, permitiram à humanidade (re)descobrir a civilização egípcia. Após as peripécias europeias de Napoleão, que resultaram na sua derrota, a pedra, um pedaço de História de 762 kg, foi transportada para o Museu Britânico, onde se encontra até hoje.