Estávamos então em 1988 e mal sabíamos que iria começar uma ‘revolução’ nas regras de viticultura em vigor no Alentejo. Primeiro, Hans mudou a cultura de sequeiro existente na herdade e plantou vinha e olival. Depois – e esta mudança foi, sem dúvida, a mais polémica – decidiu apostar nas castas tintas numa zona tradicional de vinhos brancos.
O talhão 9 C da herdade tornou-se, então, um autêntico ícone depois de, em 1991, Hans Jorgensen ter plantado cepas de Syrah com enxertos vindos directamente do Ródano. Alguns anos mais tarde, a vinha viria a dar origem a vinhos que marcariam a região. Mas havia um problema: a casta Syrah não fazia parte das variedades autorizadas na designação de Vinho Regional e Hans é obrigado a comercializar o seu vinho sem explicar no rótulo a casta de que era feito. Daí até um jogo de palavras, decidiu-se por baptizar o vinho como Incógnito.
Dezasseis anos depois da primeira vindima, participámos numa prova vertical, numa viagem de balanço onde se pretendia de ajuizar sobre a capacidade de evolução do vinho em garrafa. Foram provadas sete colheitas (1998, 2002, 2004, 2005, 2008, 2009 e 2011) e o resultado provou que qualquer delas revelava um tinto intenso, com fruta expressiva, fresco, elegante e com grande capacidade de guarda.
Mas Hans não consegue parar e decide procurar mais uma propriedade, agora na costa vicentina, esta sim apta a produzir brancos de qualidade. E é da Zambujeira, perto de Vila Nova de Mil Fontes, que nos começam a chegar expressivos brancos a partir da casta Sauvignon Blanc. A partir daí, as Cortes de Cima assumem o papel de serem a primeira propriedade a fazer vinhos no litoral alentejano.
Hoje, os resultados da ‘revolução’ iniciada em 1988 são um êxito como o atestam a qualidade da oferta no mercado. E tudo começou a bordo de um veleiro que tinha a Turquia como destino marcado.