Macedo estava obrigado a demitir-se? Não necessariamente. Depende da perspectiva pessoal e política do próprio, já que o primeiro-ministro lhe pediu por mais de uma vez, desde quinta-feira, que se mantivesse no cargo. E percebeu-se, pela comunicação que leu ao país, que o ministro, apesar de não ter qualquer interferência no caso dos vistos gold, entendeu estar irremediavelmente afectada a imagem e a autoridade da função. Desse modo, agiu em conformidade. Outros não o teriam feito, mas também alguns lhe seguiriam o exemplo.
(E aqui vale a pena uma pequena nota: duas das implicadas no processo, as secretárias-gerais da Justiça e do Ambiente, demitiram-se de imediato, mas o presidente do IRN, António Figueiredo, que já deu para perceber que será um dos principais ou mesmo o principal mentor desta rede dos vistos gold, apenas pediu a suspensão do cargo. São estes gestos que também definem as pessoas).
Uma curta conclusão: esta demissão dá a Passos Coelho o pretexto para uma remodelação mais alargada do Governo. A tal remodelação que afaste algumas caras de ministros mais desgastadas e refresque a imagem do Governo, em especial no momento em que o PS se vai apresentar aos portugueses com um novo líder. Irá o primeiro-ministro aproveitar esta oportunidade que lhe deu a demissão de Miguel Macedo? Conhecendo-se a relutância de Passos a remodelações e a sua aversão em andar a reboque das iniciativas de outros, pode apostar-se que não. E que apenas haverá uma remodelação pontual e circunscrita.