O ‘milagre Tomás’ de apenas 25 semanas

Assim que soube do nascimento de Gui às 25 semanas e das dificuldades que os pais, portugueses a viver no Dubai, estavam a passar, Cláudia Nunes Pereira não hesitou em enviar-lhes uma mensagem pelo Facebook. Afinal, há três anos tinha vivido o mesmo com o seu filho Tomás que nasceu também três meses antes do…

O drama do casal português que vive no Dubai gerou uma onda de solidariedade em todo o mundo, depois de o pai da bebé ter feito um apelo público a pedir ajuda para pagar a conta do hospital privado onde Gui nasceu. Ao fim de uns dias, tinha recebido mais de 70 mil euros, muitos dos quais vieram de desconhecidos. Mas a bebé acabou por não resistir e morrer ao fim de 18 dias, depois de muitos avanços e recuos, esperanças e angústias, seguidas quase em directo nas televisões e nas redes sociais.

Questões financeiras à parte, Cláudia conhece bem a dor que se apodera de todas as famílias que recebem um filho antes de tempo. Aos 36 anos, e já à espera do segundo filho, começou cedo com problemas na gravidez. Estava a perder liquido amniótico, tinha uma artéria umbilical única e o útero septado. Além disso, estava a viver um período conturbado a nível pessoal e profissional, conta.

“A gravidez tinha tudo para correr mal. Já sabia que ia nascer antes do tempo e às 17 semanas vim para casa”. Cinco semanas depois, uma hemorragia levou-a ao Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, de onde já não saiu até Tomás nascer, pois o parto podia desencadear-se a qualquer hora. 

Deitada na cama, Cláudia entrou em depressão, afundada em “ses” sem resposta (se tivesse feito repouso, se…), embora vivesse “cada dia como uma vitória”. Às 25 semanas, foi chamada para uma cesariana de emergência – “uma cena à Anatomia de Grey” – e Tomás veio ao mundo com 628 gramas. O bebé nasceu bem, mas os pais ficaram com medo do que lhe fosse acontecer. 

“Nem queria ir vê-lo, tinha medo de me afeiçoar. Quando o vi, ia desmaiando. Foi um choque”, recorda, recuando a 2011, e não contendo a emoção. Mas a fé em Deus, o apoio da família e amigos e a confiança total na equipa médica – a quem não poupa elogios – fizeram-na acreditar que Tomás ia sobreviver. “Não suportava a ideia que as pessoas têm de que um prematuro é apenas um bebé que nasce antes do tempo e depois cresce cá fora. Não é nada disso. Há tanta coisa que pode correr mal. E que corre…” , desabafa, recordando o olhar que o filho lhe dirigia.

“O medo estrangula-nos”, sublinha esta mãe que ao longo dos quatro meses de internamento do filho assistiu à morte de outros bebés.

Ao fim dos primeiros 20 dias, Tomás teve uma infecção e esteve à morte. As intercorrências hospitalares foram mais do que muitas, entre as quais três hemorragias cerebrais. Mas as sequelas que ficaram para a vida são inexistentes. Apesar de ter um controlo médico apertado e de fazer terapia ocupacional, Tomás é um perfeitamente normal. Está na escola, na natação, é doido por carros, gosta de puzzles e é muito sociável. “É mais agitado e tem dificuldade em focar-se. E é magrinho, claro. Mas de resto é um milagre!”

rita.carvalho@sol.pt