Zombies, guerras e ficção científica na Universidade de Lisboa

 Há filmes de zombies que são uma crítica à sociedade, há séries sobre guerras imaginárias que contam histórias reais, há livros de ficção científica que analisam o presente, e há uma conferência que debate tudo isso.

A conferência internacional “Ficção Científica e Fantasia” tem como título “Mensageiros das Estrelas – Episódio III” e decorre de 19 a 21, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, numa organização do Centro de Estudos Anglísticos.

É o terceiro episódio, porque a edição deste ano é a terceira. O primeiro foi em 2010, durante dois dias, e o segundo em 2012. O sucesso foi tão grande que se aumentaram os dias de conferências e, pelo caminho, criou-se uma cadeira de “Ficção Científica e Fantasia na Expressão Inglesa”, na Faculdade de Letras, que está sempre cheia, segundo os organizadores.

A professora de Cultura Medieval e de Linguística Inglesa na Faculdade de Letras Angélica Varandas é uma das organizadoras desde a primeira hora. Mas também uma apaixonada pela ficção científica e pela fantasia, como de resto os outros organizadores, todos da Universidade.

E conhecem tudo, da literatura ao cinema, dos jogos à banda desenhada. Falam de autores como Tolkien, Bram Stoker ou Isaac Asimov, de filmes como Harry Potter, Drácula ou Blade Runner. E são-lhes familiares nomes como Luke Skywalker, Gandalf e Frodo, Tyrion Lannister, a floresta de Endor, o planeta Tatooine ou a escola de Hogwarts.

Apesar de organizada pelo Centro de Estudos Anglísticos, a conferência, diz Angélica Varandas, não está condicionada à literatura inglesa, mas sim aberta a outras culturas. E não será também puramente académica, como diz à agência Lusa.

O objetivo é, na verdade, “refletir sobre a sociedade, tendo em conta a ficção científica e a fantasia”, dois géneros “muitas vezes considerados menores porque não fazem parte da realidade, embora muitas vezes façam”, diz Ana Coelho, investigadora do Centro.

José Duarte, também investigador, nota como a ficção científica tem, ao longo das décadas, refletido sobre a sociedade. “É interessante refletir sobre séries como Walking Dead”, diz.

A premiada série norte-americana “é uma crítica à sociedade contemporânea, em que os zombies somos nós”, diz Angélica, lembrando outra série de fantasia, Guerra dos Tronos, explicada com a histórica Guerra das Rosas (de lutas dinásticas em Inglaterra).

Os três vão apresentar comunicações na conferência, mas serão dezenas as palestras ao longo dos três dias. Sobre heróis, vilões ou fantasia gótica, sobre escritores como Jorge Luís Borges, Guy de Maupassant, Jane Austen ou Edgar Allan Poe, sobre filmes como O Senhor dos Anéis ou As Crónicas de Nárnia. Ou sobre danças macabras, deuses egípcios, espadas, batalhas no espaço e até “Ficção Científica e Crise”.

São três dias para discutir os filmes e os livros, a banda desenhada e os videojogos e a ligação entre a fantasia e a ficção científica e a realidade.

“Vou tentar explicar a obsessão da fantasia para com a Idade Média”, diz Angélica Varandas, explicando que a fantasia enquanto género nasceu no século XIX, depois de o renascimento ter repudiado a idade média, “uma idade não tecnológica que agrada aos autores de fantasia”.

Nos episódios anteriores já se falou do possível e impossível, da sexualidade “desviante” do vampiro, dos filmes de Tim Burton, do escritor Jorge de Sena e do “submundo da literatura de ficção científica portuguesa”.

Os organizadores acreditam que o terceiro episódio dos Mensageiros das Estrelas será de novo um sucesso. Diz Angélica Varandas que o ser humano questiona muito a sua realidade, o que é e o que faz. E a ficção científica e a fantasia também.

Lusa/SOL