É meia-noite e vinte turistas alemães com mais de 55 anos formam um comboio animado ao som de um hit alemão na discoteca Bubbles, de um resort em Maspalomas, no Sul da Gran Canária. À 1h30 a discoteca está fechada e o resort deserto.
Na Playa del Inglés, a noite ainda agora está a começar. Por volta das 22h30 houve uma 'mudança de turno' no centro comercial Yumbo. As famílias e turistas que andam às compras dão lugar ao epicentro da movida gay. Bares e discotecas exibem orgulhosamente as bandeiras do arco-íris. Shows de drag queens, karaoke e danças no varão são algumas das atracções dos mais de 50 estabelecimentos. Três homens estão ligados por uma trela, outros trazem calças com o rabo à mostra, também há os que preferem roupas temáticas, como o jogador de rugby ou o polícia. Reina a descontracção e a folia. A abertura e liberdade de expressão fazem desta ilha nas Canárias um dos destinos europeus mais concorridos para gays e lésbicas.
O Inverno é a época alta nas Canárias, que tem um clima quente quase todo o ano – a temperatura média é de 24ºC e a do mar oscila entre os 18º e 22ºC. A maior fatia da ocupação turística nesta altura vai para o turismo LGBT, que se concentra na Playa del Inglés – 90% desta zona é turismo gay -, e sénior – principalmente vindo dos países nórdicos e Alemanha -, distribuído pelos vários resorts da zona Sul da ilha. Maurice Damien, director comercial dos hotéis RIU Gran Canária há 25 anos, explica porquê: “Os casais gay são os clientes perfeitos: recebem dois salários e não têm filhos, por isso podem fazer férias nesta altura. Tal como os reformados, que chegam a passar cá dois e três meses de Inverno”.
Eles de camisas largas e calções, elas de vestidos, ambos de sandálias confortáveis. Quem olhar para os resorts e para a avenida junto ao mar de Maspalomas parece ver passar constantes fotocópias. Muitos destes seniores são turistas de resort. Acabam por ficar a maior parte do tempo no hotel em busca de sol e descanso. Junto ao restaurante, um casal idoso tira uma foto com um empregado sorridente e no bar um outro empregado pega ao colo uma criancinha loira. A proximidade é quase familiar.
Os resorts multiplicam-se numa imponência quase monstruosa. Um negócio que é disputado por duas famílias rivais: Riu e Lopesan, cada uma detentora de 10 hotéis só nesta pequena ilha. E há-os para todos os gostos e bolsos: exclusivamente para maiores de 18 anos e gay friendly ou com uma decoração vintage e horários adaptados aos turistas nórdicos.
“Esta é a 11.ª vez que venho às Canárias”, conta Leonor Filipe Saraiva. “Gosto muito do clima. Venho essencialmente para descansar, fazer algumas compras e praia”. A médica inclui-se nos 1% de turistas portugueses que vão de férias para a Gran Canária (ver caixa). Diz que foi um amigo alemão quem lhe recomendou o sítio, há doze anos, e desde então volta sempre para recarregar baterias. E também para fazer compras, uma vez que, por ser uma ilha, a Gran Canária não tem IVA nos produtos (e algumas lojas ainda fazem promoções), compensando principalmente nos perfumes, cosméticos e outros produtos de beleza, gadgets e electrónica, roupa e tabaco.
Um continente em miniatura
Os contrastes desta pequena ilha vulcânica a 210 km da costa ocidental de África e a duas horas de voo de Lisboa não se ficam pelos turistas. Quem chega é logo avisado que se trata de um “continente em miniatura”, um cartão-de-visita que os locais não se cansam de apregoar. Do deserto às montanhas, das praias às florestas subtropicais, a Gran Canária tem paisagens para todos os gostos.
O pôr-do-sol visto a partir das dunas de Maspalomas é um dos cenários mais bonitos da ilha. Com 400 hectares, as dunas formam um autêntico deserto que desenboca numa praia, parte dela de nudismo. Na extermidade ocidental desta reserva natural – 43% do território da ilha é protegido – encontra-se La Charca, uma lagoa ornamentada de palmeiras e que abriga várias espécies de aves migratórias.
A areia destas praias é mais escura do que, por exemplo, a do Algarve, mas a água continua morna durante todo o ano. Em Las Canteras, a praia citadina da capital Las Palmas, há concertos depois das 17h00. Às quintas-feiras, os bares da cidade enchem-se de nativos e turistas atraídos pelo menú de uma tapa e uma bebida por dois euros. Na zona Sul da ilha, as opções para sair à noite concentram-se nos três centros comerciais que se transformam em zona de bares e discotecas, com um ambiente a lembrar as feiras populares mas sem os habituais carrinhos-de-choque. O Yumbo (gay friendly), o Kasbah (local de encontro dos jovens) e o Plaza (para dançar ao som de músicas internacionais), que têm uma Igreja Ecuménica pelo meio, situam-se todos na Playa del Inglés.
Para quem gosta de aliar ao descanso e diversão um pouco de História, vale a pena passear pelo bairro Vegueta, em Las Palmas, que acolhe a Casa de Colón, um palácio que celebra a passagem de Cristóvão Colombo pela ilha, e a Catedral de Santa Ana. Subindo o elevador da torre Sul, poderá admirar a vista sobre a cidade e o porto. E decidir se este é um lugar a voltar.
* A jornalista viajou a convite do Patronato de Turismo de Gran Canaria, da companhia aérea Binter e da cadeia hoteleira RIU