Embora não seja fácil saber o valor real registado nos meios digitais – porque “há uma prática de manter esses números em segredo” -, Manuela Botelho salienta que o investimento na internet tem vindo a crescer muito: “Hoje em dia, deve representar entre 10 a 12% do total de investimento e estará em terceiro lugar nas escolhas dos anunciantes”.
O digital vai ultrapassar os jornais impressos? Haverá publicidade ou outras soluções para pagar os jornais online? São questões 'de um milhão de dólares', num momento de incerteza e de muitos ensaios das empresas de comunicação social portuguesas.
No panorama nacional convivem várias soluções, ou testes, de um modelo que suporte a transferência cada vez maior de leitores do papel para o digital. O Correio da Manhã impõe, por exemplo, o pagamento através de chamadas de valor acrescentado para se aceder à leitura completa de alguns artigos, o site do DN, quase inteiramente disponível, remete para a leitura integral na edição impressa.
O SOL tem um site completamente aberto, reestruturado em Maio – tendo ultrapassado cinco milhões de visitas no mês de Outubro, no Google Analytics – e uma presença forte nas redes sociais, com quase meio milhão de seguidores no Facebook. À sexta-feira, o site coloca teasers da edição impressa e ao longo da semana insere artigos seleccionados. Quase em simultâneo com o nascimento do inteiramente gratuito Observador, e também em Maio, nasceu o Expresso Diário ao qual se acede a partir das 18h, através de um código fornecido na edição em papel.
“O crescimento do online está a acontecer gradualmente, mas infelizmente muito investimento tem ido para os players internacionais, como o Google e o Facebook”, sustenta Rudolf Gruner, director-geral do site generalista gratuito. Isso não impede que o Observador esteja a “cumprir todos os objectivos”, quer em termos de leitores, com “mais de três milhões de visitas no mês de Setembro” (contabilizadas pelo Google Analytics), quer em receitas. E embora o Observador tenha optado pelo modelo completamente gratuito para todos, “esse modelo não está fechado”, acrescenta Rudolf Gruner.
Pagar para ver tudo
Os jornais digitais serem totalmente gratuitos “não é uma fatalidade, ao contrário do que se pensava há pouco tempo”, defende Bárbara Reis: “Provámos que isso é reversível quando há um ano criámos uma paywall”. A directora do Público acredita que a opção resultou: de momento, a 10 euros por mês ou 99 por ano, o online do diário tem 11 mil assinantes e 25% das receitas totais, que incluem publicidade, vêm do serviço digital. “Estamos com 10 milhões de visitas por mês e 800 mil seguidores no Facebook”, refere.
Em 2012, recorda, “os gurus chamaram 'revolução dos leitores' ao momento em que dois terços dos jornais norte-americanos criaram algum tipo de pagamento”. O New York Times “esteve dois anos a pensar como fazê-lo”. O Público fez a sua revolução em vários passos. Depois de ter “andado um ano a fazer equipa para o online”, decidiu desmontar tudo e criar uma só redacção. E houve uma alteração de filosofia: o Público é um produto único. “Mas o online não é menos, é até mais, porque o papel é finito e o online permite mais conteúdos e imensas coisas como gráficos e trabalho multimédia”. Neste regime – adoptado há um ano, com paywall e assinaturas para quem quer ter acesso a todos os conteúdos – os “leitores que procuram o Público para ter conteúdos de qualidade estão em pé de igualdade, têm que contribuir”, diz a directora. “Nisto, estamos sozinhos no mercado”.