A adaptação ao cinema multiplicou o sucesso, e ultrapassou a saga sobre vampiros Crepúsculo em receitas de bilheteira. Os Jogos da Fome conta a história de uma espécie de estranho e bárbaro reality show em que jovens são forçados a participar numa luta de morte para deleite da elite. A Revolta – Parte I, porém, traz ventos de mudança. Alma Coin (Julianne Moore) e Plutharch (um dos derradeiros papéis de Philip Seymour Hoffman) promovem uma revolta popular para derrubar o regime totalitário. Serão bem-sucedidos? Sabê-lo-emos daqui a um ano, em Novembro de 2015, quando A Revolta – Parte 2 fechar o círculo.
Parece não se importar muito com a sua imagem e gosta de mostrar-se tal e qual como é. A grande maioria das actrizes acaba por adoptar um comportamento mais politicamente correcto…
Temos de fazer o que está ao nosso alcance para sermos felizes. Este mundo pode ser muito excitante, mas também algo triste. E as pessoas têm de encontrar alguma protecção. A minha é esta. Limito-me a dizer aquilo que penso…
Não receia as consequências que isso pode ter?
Provavelmente há muita gente a fazer juízos sobre o que estamos a dizer, o que vestimos ou o que fazemos. Mas se permitirmos que isso nos condicione, acabará por esmagar-nos. Por isso limito-me a falar, a vestir-me e a não ligar às repercussões.
Mas sente que entretanto se tornou mais cautelosa naquilo que diz à imprensa, por exemplo?
Estou a tentar… Não é normal que aos 22 ou 23 anos tenhamos de ter cuidado com o que dizemos ou poderá dar azo a notícias parvas. Há pessoas que prestam demasiada atenção a isso, o que pode ser stressante. Eu não, não quero saber. Interessa-me lá saber se dei alguma gaffe ou se vou ver aquela imagem de mim a cair nas escadas… [tropeçou nos degraus quando ia receber o Óscar]
Não consegue resistir a ser você própria, não é?
É isso. Por exemplo: é-me difícil passar ao lado de uma piada, percebe? Mesmo quando sei que não é apropriada…
Sendo tão espontânea não se presta mais a ser apanhada em situações embaraçosas?
Poderia pôr-me aqui a contar-lhe histórias sobre como sou tão controlada, mas não seria verdade. Há pessoas que se vangloriam de não aparecer em tablóides, mas eu não tenho qualquer controlo sobre isso. Não tenho controlo sobre as fotografias que me tiram ou sobre o que dizem. Por isso mesmo não tenho outra escolha a não ser eu própria.
As críticas e comentários alguma vez afectaram a sua autoestima?
Não, nada disso afecta a minha autoestima. Se alguém me chamar gorda, eu sei que não é verdade; mas se me chamar feia, aí já posso concordar…
Como assim?
Sou como qualquer outra mulher. Talvez não afecte a minha autoestima, mas pode deixar a sua marca.
No entanto, o mundo em que vive também tem com certeza coisas boas. Gostava de saber quais são os seus guilty pleasures, aqueles pecadinhos a que não resiste.
Guilty pleasures? Os reality shows! É a única coisa em que me posso perder. Até porque não sei como são feitos nem conheço ninguém nesse mundo.
Estava mais a pensar em comida. Preocupa-se muito com o seu corpo? Permite-se, por exemplo, comer bolos?
Não direi que me permito: saio de casa para correr durante uma hora para depois poder deliciar-me a comer porcarias. Mas estou neste projecto [Os Jogos da Fome] há tanto tempo que já nem sei. Normalmente chego a casa e caio morta.
Não tem tempo para se manter em forma?
Aqui em França tenho-me fartado de comer pão com manteiga, mas não vale a pena entrar em stresse. Faço ginástica porque sei que é bom e para me manter saudável. Mas ainda sou nova. Hei-de pensar nessas coisas quando precisar.
Trabalhou duas vezes com o realizador David O. Russell [Guia para um Final Feliz] e teve esta franchise. Como perspectiva a sua carreira no futuro?
Foi muito bom poder trabalhar com pessoas que já conhecia. Facilitou muito o trabalho. Por exemplo, com o Francis Lawrence [realizador de Os Jogos da Fome] por vezes já sabia o que ele estava a pensar. É uma das coisas boas de trabalhar com as mesmas pessoas. Mas também é bom passar para algo completamente novo.
Isso significa que poderá voltar a fazer filmes independentes?
Claro que sim. Não me irão ver tão cedo noutra franchise…
O seu nome num filme independente poderá fazer com que não passe despercebido…
Essa seria uma das melhores coisas que me poderiam acontecer. Encontrar uma história deliciosa que jamais entraria numa sala de cinema e poder estar envolvida na sua descoberta.
Não sente que tem uma certa responsabilidade pelo destino da sua personagem d’Os Jogos da Fome?
Às vezes pode ser perigoso pensar em como será a reacção dos fãs à nossa personagem. O meu trabalho é tentar encontrar a verdade da personagem e representá-la o melhor de que sou capaz. Seja ela agradável ou não.
Era muito nova quando ganhou o Óscar. Tinha 22 anos. Sente que isso dificulta as suas escolhas?
Não, nada mudou no meu critério de escolha. Tal como sucedeu com Os Jogos da Fome, tenho de gostar da história, da personagem e da equipa.
Consegue compreender aqueles que são apanhados pelo lado negro da fama, que têm a vida totalmente escrutinada pelos media?
A nossa vida fica completamente virada do avesso. Eu luto contra isso porque sou uma pessoa normal e não gosto de ser seguida todo o dia e de ter pessoas à minha porta durante todo o dia, todos os dias. Acho que quem procura esse tipo de vida e necessita desse tipo de atenção deve ter problemas mentais. É bizarro. Adoro o meu trabalho e não poderia fazer outra coisa na vida. Mas aguentar com toda essa parte acaba por ser um fardo muito pesado.
Acha que o dinheiro também nos pode arruinar a vida?
O dinheiro não faz grande diferença. Tenho muita sorte sobretudo por poder fazer aquilo que quero e ganhar algum dinheiro com isso. Mas não é o dinheiro que nos aconchega à noite…
Já teve experiências negativas com fãs?
O problema é que há pessoas que acham que me conhecem, provavelmente de me verem no ecrã, mas isso não lhes dá o direito de pensarem que sou amiga delas. E alguns pais trazem as criancinhas para tirar uma foto comigo. Isso é um bocado chato.
Sente que perdeu uma parte importante da sua liberdade?
Sinto-me abençoada e sei que poderia ter uma existência muito mais triste. Mas tenho de me habituar que há certas coisas que não posso fazer. Imagine que está um lindo dia lá fora e me apetece ir dar um passeio ou ir fazer compras, mas não posso sair pela porta. Ou não poder ir jantar com os meus amigos. Por que estou eu em prisão domiciliária se não cometi nenhum crime? Não tenho controlo sobre as fotografias que me tiram e não sei quando irão aparecer nas redes sociais. E quando aparecem nas redes sociais aparecem também nos tablóides. E os tablóides são hoje em dia uma celebridade maior do que nós.