Margem sul na mão de chineses

O projecto de construção da primeira marina da margem sul do Tejo, em Almada, está agora nas mãos de chineses. Segundo o SOL apurou, os terrenos da antiga Lisnave, para onde a Câmara Municipal de Almada aprovou aquela obra, estão prestes a ser vendidos a um consórcio internacional, que tudo indica ser o Wanda Group,…

O processo de venda está a ser conduzido pela Baía do Tejo (empresa detida pela Parpública, holding do Estado), que no mês passado enviou mesmo uma delegação àquele país asiático para concluir o mais rapidamente possível o processo de venda.

“Estivemos de facto em Pequim, em Outubro, a falar com os investidores” – avança ao SOL o presidente da Baía do Tejo, Jacinto Pereira, confirmando também que no Verão passado representantes do grupo de Wang Jianlin estiveram em Portugal, a visitar o local para onde existe um plano de urbanização aprovado desde 2009.

Este plano prevê uma mini-cidade para mais de 10 mil habitantes, semelhante à Expo de Lisboa, e tem como pólo central uma marina com lugar para 500 embarcações. Está ainda prevista a transferência do terminal fluvial de Cacilhas para a doca 13 e uma área bruta de 630 mil metros quadrados para construção – entre habitações, comércio, hotéis e um centro de ciência e tecnologia, entre outras infra-estruturas.

Crise dos 'vistos gold' pode afectar projecto

Jacinto Pereira diz que a venda dos terrenos está “para muito breve”, garantindo que não se trata de uma mera operação financeira de especulação imobiliária, mas de uma aposta no desenvolvimento da zona. “Temos como missão a promoção dos terrenos para encontrar investidores, o que herdámos da extinta sociedade Arco Ribeirinho Sul, em relação aos terrenos da Lisnave, mas também do Seixal (Siderurgia Nacional) e do Barreiro” (Quimiparque), explica o gestor, lembrando que em causa está um projecto de 1.200 milhões de euros.

Jacinto Pereira recusa confirmar o nome dos investidores, referindo apenas que surgiram na sequência da visita à China, em Maio deste ano, do Presidente da República, Cavaco Silva. Mas o SOL sabe que, de todos os possíveis investidores, incluindo outros chineses, o Wanda Group foi o que revelou maior interesse. A visita de responsáveis deste grupo aos terrenos de Almada foi acompanhada por elementos da AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal).

Certo é que uma das apostas do futuro comprador, segundo fontes do sector, será no mercado imobiliário internacional, nomeadamente destinado aos chineses. “Como Portugal está em crise, a ideia é vender casas a chineses e outros estrangeiros”, diz uma fonte ligada ao processo, notando que a actual polémica em torno dos vistos gold – que serão um chamariz para a compra de imóveis de luxo nesta nova mini-cidade – pode afectar o projecto.

Jacinto Pereira admite que o futuro consórcio deverá apostar no mercado estrangeiro para conseguir vender imóveis para habitações e para fins comerciais.

FIL da margem sul por decidir

O plano de urbanização para a zona de Almada Nascente – que contempla esta mini-cidade e que obriga qualquer investidor a cumpri-lo – está aprovado pela autarquia desde 2009. No entanto, o prazo de validade foi já ultrapassado (era de três anos), o que permite ao investidor revê-lo e fazer alterações.

Qualquer projecto, porém, terá de ter luz verde das autoridades locais. “É preciso sempre licença da Câmara”, confirma ao SOL o presidente da autarquia de Almada, Joaquim Judas, que não esconde a desilusão por os antigos terrenos da Lisnave estarem neste momento sem uso. “Estão a ficar degradados”, avisa, esclarecendo que há algum tempo que a Câmara pediu autorização para, enquanto não se concretiza a venda, converter um mega-armazém ali existente numa espécie de FIL (Feira Internacional de Lisboa) da margem sul.

“Gostávamos de criar ali um espaço que promovesse a cultura desta região”, explica Joaquim Judas, acrescentando que a ideia está dependente de autorização do proprietário (o Governo) para avançar. “Está previsto na lei que se façam usos transitórios dos terrenos, o que implica usar por um certo período de tempo determinado espaço sem alterar nada, para não comprometer o plano de urbanização já aprovado”, acrescenta o autarca, frisando que o facto de ali nada se poder fazer está a ter “custos incalculáveis”.

Jacinto Pereira adianta que a Baía do Tejo esteve a avaliar o pedido da autarquia para accionar o uso transitório, tendo chegado à conclusão de que seria mais adequado ser o novo investidor a decidir. “Se não tivéssemos perspectivas de ter um investidor a curto ou médio prazo, podia fazer sentido avançar”, revela o responsável. Ou seja, a concretizar-se o negócio em vista, caberá ao grupo chinês decidir se, enquanto constrói a mini-cidade, permite que a Câmara ponha a funcionar a FIL da margem sul.

catarina.guerreiro@sol.pt