Como reage a todo este fenómeno de histeria em seu redor? É algo com que já lida com alguma naturalidade?
Não, não é normal. É um circo a que nunca me irei habituar. Ao mesmo tempo é algo bonito, pois estas pessoas criam laços connosco, com o nosso trabalho, com os nossos filmes.
Vi adolescentes penduradas com o telemóvel em riste e um ar de delírio, só para poderem tentar tirar uma foto desfocada de si…
Pois, ficam excitadas por nos verem, por poderem tirar uma fotografia. E choram com frequência. Perceber que temos esse efeito nas pessoas é incrível; fazer alguém feliz apenas por dizer ‘olá’ é muito poderoso. Mas também é algo intimidatório, porque nos persegue por todo o lado. Às vezes gostaria de poder viver uma vida normal e isso não é possível.
Mas não se sente arrependido…
Não, não, não… Mas às vezes penso que quem me dera ter sido actor há 30 ou 40 anos. Ou mesmo no período clássico do cinema americano, nos anos 30 ou 40. Onde quer que vamos as pessoas irão sempre tirar uma foto com o seu smartphone, colocá-la online e dizer onde estamos, o que faz com que apareça muita gente. Por vezes não consigo perceber como os paparazzi conseguem aparecer nos locais mais inacreditáveis. É porque alguém tirou uma foto e a colocou no twitter a dizer onde eu estava. Ou seja: eu nunca me irei perder, pois haverá sempre alguém que vai encontrar-me. Fico doido ao pensar nisso.
Isso significa que não é um entusiasta das redes sociais?
Não, apenas uso o meu twitter para aspectos relacionados com o meu trabalho. Do ponto de vista pessoal não. Aliás, odeio como hoje em dia as pessoas comunicam. As redes sociais acabam por desligar as pessoas umas das outras. São excelentes ferramentas para dar voz a quem não a tem – há países que passam por crises graves e as pessoas podem partilhar as suas histórias – mas também há muita gente que as usa para fazer bullying.
Foi a franchise Os Jogos da Fome que criou esse monstro da fama… Acha que depois desta série a sua vida poderá regressar à normalidade?
Espero que sim, que toda esta euforia possa acalmar um pouco, embora também gostasse que alguns fãs me seguissem noutros projectos que venha a fazer.
Gosta de ir ao cinema? Consegue fazê-lo sem ter de entrar depois de o filme começar e de sair antes de acabar?
Não é bem assim. Quando estou num evento publicitário, como aqui, tudo se torna muito mais louco. Mas quando vou ao cinema é diferente. Podem cumprimentar-me, mas nunca como esta histeria.
Não receia o que lhe poderá acontecer no futuro, como sucede a tantas estrelas que perdem a fama?
Muita gente perde o rumo daquilo que faz, esquece-se de onde vem e de onde está e da razão por que está ali. Tornam-se vítimas da própria fama. Felizmente tenho ao meu redor a minha família e amigos. Sou actor porque quero contar histórias. E levo isso muto a sério. Mas se também puder divertir-me um pouco pelo caminho, por que não?…
Começou muito cedo. Pode relatar-nos esse trajecto? É verdade que o seu sonho aos nove anos já era tornar-se actor?
É verdade. Acho que a vida tem muito a ver com a sorte, pois parece que estava no local certo na hora certa. E, claro, também terei o meu talento. Pude trabalhar com actores e realizadores incríveis e desenvolvi o meu próprio método. Houve sorte, é verdade, mas também muita determinação.
Foi difícil convencer os seus pais a seguir este rumo?
Por alguma razão consegui convencê-los a apoiarem-me nesta aventura louca de ser actor. A minha mãe abandonou o emprego para ir comigo do Kentucky para Los Angeles, numa altura em que o cartão de crédito já tinha atingido o limite do plafond. E disse-me: ‘Tens seis meses para fazer esta experiência. Se não resultar voltamos para casa. Vais para a escola e tentas depois quando fores mais velho’.
Agora pode retribuir o investimento que fizeram em si…
Sim, o melhor que me pode acontecer hoje é ter a capacidade para apoiar aqueles que me ajudaram quando estava a crescer, poder comprar uma casa para a minha mãe ou um carro para o meu pai.
Essa tatuagem no pulso tem algum significado especial?
Sim, é um desenho do signo balança. Tenho-a desde os dezasseis anos. As outras são estrelas, para a minha mãe, o meu irmão e o meu pai. No fundo, são elementos relativos à minha família e áquilo que eu sou.