Em declarações à agência Lusa, Ricardo Maissa, filho da pianista, indicou que a mãe, que vivia no lar da Casa do Artista, em Lisboa, teve problemas respiratórios na noite de terça-feira e foi transportada para o Hospital de Santa Maria, onde viria a falecer pouco depois.
De acordo com a mesma fonte, o corpo da pianista está ainda no hospital e as cerimónias fúnebres ainda não foram marcadas, mas o funeral deverá ser realizado na quinta-feira, para o Cemitério Israelita.
Nascida em Turim, em 1914, Nella Maissa tornou-se portuguesa pelo casamento com Renato Maissa, em 1936, na sinagoga de Milão, em Itália, e veio viver para Portugal três anos mais tarde.
Nella Maissa teve uma longa carreira como concertista em Portugal e no estrangeiro, tendo tido um papel determinante na divulgação de obras de compositores portugueses.
Deu o último concerto na Casa da Música, no Porto, em 2008, com 94 anos e 76 de carreira, e residia há seis anos no lar da Casa do Artista, segundo a família.
Pela sua importância no meio musical português, foi distinguida com o Prémio Especial da Imprensa, em 1974, a Medalha de Mérito Cultural da Secretaria de Estado da Cultura, em 1986, e, em 1989, com a Comenda da Ordem Militar de Santiago da Espada pelo Estado português.
Em Janeiro de 2004 foi condecorada em Itália com o grau de Grande Oficial de Ordem da Solidariedade Italiana.
Nella Maissa realizou primeiras audições de obras como o "Ludus Tonalis", de Hindemith, dos Prelúdios de Frank Martin, de várias obras de Messiaen, e dos concertos de Prokofieff, Béla Bartók, Dallapiccola, Shostakovitch, Tansmann, Gershwin, Ruy Coelho, Armando José Fernandes e Fernando Lopes Graça.
Fez recitais e palestras sobre Scarlatti e Clementi, gravou vários discos de música portuguesa e fez a gravação integral da obra pianística de João Domingos Bontempo, incluindo os quatro concertos para piano deste mesmo autor, com a colaboração da Orquestra Sinfónica de Nuremberga.
Nella Maissa foi premiada no primeiro Concurso para Jovens Concertistas, em Roma, e obteve, por unanimidade, o 1.º Prémio do Concurso Vianna da Motta.
Em 2007, quando deu um recital no Palácio Foz, em Lisboa, Nella Maissa disse, numa entrevista à agência Lusa, que toda a sua vida tinha sido preenchida com música e só lamentava não se ter dedicado também ao ensino.
A pianista começou por escolher autores portugueses para os seus concertos depois de uma digressão no Brasil em que lhe pediram para tocar música portuguesa.
Manteve uma longa amizade com Armando José Fernandes e Fernando Lopes Graça, dois dos compositores cujas peças tocava frequentemente, a par de outros compositores como Luís de Freitas Branco, Joly Braga Santos e Ruy Coelho.
"Eram visitas de casa, ajudavam-me quando fazia gravações e dedicaram-me obras", recordou Nella Maissa, na altura.
Em Fevereiro de 1995, a pianista foi alvo de uma homenagem nacional no Teatro Tivoli, no decorrer da qual tocou com a Orquestra Gulbenkian, dirigida pelo maestro Manuel Ivo Cruz.
Lusa/SOL