Presidente turco diz que igualdade de género “é contranatura”

O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, voltou a causar polémica num ataque ao movimento feminista do país, defendendo que a igualdade de género não é praticável por ser “contra a natureza humana”.

Presidente turco diz que igualdade de género “é contranatura”

“Não podemos ter mulheres a fazer todo o tipo de trabalhos que os homens fazem, como nos regimes comunistas”, disse o homem que liderou o Governo turco entre 2003 e Agosto deste ano, data em que passou para a presidência do país.

Erdogan falava numa conferência sobre mulheres e justiça em Istambul. “A nossa religião, o Islão, definiu uma posição para as mulheres na sociedade: a maternidade”, defendeu o líder do islâmico Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP na sigla turca).

Para os seus críticos, as palavras de segunda-feira são apenas mais um episódio da agenda pessoal, que tenta derrubar os pilares seculares da Turquia e limitar as liberdades civis das mulheres. Em 2011, na chefia do Governo, Erdogan justificara o aumento do número de homicídios resultantes de violência doméstica apenas com um aumento das denúncias desses crimes, desvalorizando qualquer tendência machista da sua sociedade.

“Há pessoas que conseguem perceber isto, enquanto outras não. Não se pode explicar estas ideias a feministas porque as feministas não aceitam o conceito da maternidade”, disse Erdogan antes de acrescentar que lhe bastam os que “conseguem perceber”. “Continuaremos o nosso caminho com esses”, avançou, num discurso polémico que gerou forte reacção nas redes sociais, dentro e fora da Turquia.

Uns consideraram o episódio mais “uma humilhação para a NATO” vinda de um líder de um Estado-membro, outros lamentaram a “morte do secularismo” na Turquia. E ainda houve quem recordasse outros célebres ataques de Erdogan à igualdade de género.

Em Agosto, num ataque à interrupção voluntária da gravidez e ao uso da pílula do dia seguinte, Erdogan defendeu que todas as mulheres turcas deviam ter pelo menos três filhos. Palavras proferidas um mês depois de o então seu número 2 no Governo, Bulent Arınc, ter provocado uma chuva de críticas ao defender que “as mulheres não se devem rir em público” e “não ser convidativas nas suas atitudes, de forma a defender a sua castidade”.

Também numa recente disputa com uma jornalista famosa do país, Erdogan referiu-se a esta como uma “mulher sem vergonha” que devia saber “colocar-se no seu lugar”.

nuno.e.lima@sol.pt