Desporto e cooperação entre países lusófonos

Segundo Alfredo Margarido (2000) “a lusofonia é apenas o resultado da expansão portuguesa e da língua que esta operação teria espalhado generosamente pelo mundo fora”. Em seu entender, “seria menos o resultado de um projecto, do que a consequência inesperada de uma maneira particular de circular pelo mundo”.

Independentemente de juízos acerca da própria construção histórica dessa “maneira particular de circular pelo mundo”, houve consequências que permanecem e que, de modo muito vincado no desporto e mais propriamente no futebol, deixaram linguagem, símbolos e referências bem vivos entre as populações dos países africanos que adquiriram a sua independência após Abril de 1974. O desporto é, decerto, a área em que encontramos mais proximidade cultural e mais afinidade entre pessoas e países do espaço lusófono; aquele em que a comunicação mais facilmente se estabelece.

Provavelmente as relações no âmbito do desporto entre os países que têm o português como língua comum não serão diferentes das existentes noutros domínios; existem, todavia, condições objectivas e subjectivas potenciadoras de uma cooperação preferencial em que Portugal e os portugueses poderão ter uma missão a cumprir. Não messiânica, nem paternalista, muito menos neo-colonizadora; apenas de cooperação.

Quem melhor que os portugueses está em condições de estabelecer uma efectiva cooperação com os povos que como nós próprios, foram vítimas de um regime político que tinha na ignorância um dos seus fundamentais alicerces?

Embora em níveis diferentes, os países lusófonos têm na educação o seu desígnio maior, o factor absolutamente determinante para a melhoria das condições de vida dos seus povos e para uma afirmação positiva na cena internacional. O desporto pode contribuir para estes objectivos de modo singular e Portugal reúne boas condições para uma parceria mutuamente vantajosa. Assim o queiram os responsáveis políticos e desportivos.

As organizações internacionais e regionais, governamentais ou não, têm dedicado especial atenção ao desporto como factor de desenvolvimento, paz e bem-estar das populações. Não faltam declarações, cartas, convenções e acordos redigidos e assinados em nome e para benefício das pessoas, mas são poucas as acções que, com carácter de continuidade, propiciem o acesso generalizado a uma prática desportiva verdadeiramente educativa, gratificante e emancipadora. 

*Director da Faculdade de Educação Física e Desporto, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias