Jessica Chastain, a actriz de que se fala: ‘Não me sinto nada estrela’

A actriz de quem se fala. Isto já há alguns anos. Desde que a vimos em A Árvore da Vida e em As Serviçais, em 2011, onde viria a ser nomeada para o Óscar secundário. Ainda há poucas semanas nos deu mais uma intensa prestação em Interstellar, de Chris Nolan. Mas em O Desaparecimento de…

Intensa é igualmente a vida de Jessica Chastain, possivelmente a atriz em maior demanda nos últimos anos. Na nossa conversa durante o último festival de Cannes recuperámos o momento em que ultrapassou o anonimato e a atualidade de uma das celebridades de quem mais se espera, e auscultámos ainda a expectativa com que antecipa a concretização de alguns dos seus desejos pessoais.

O que se passa com a Jessica Chastain que de há poucos anos para cá parece ter o condão de aparecer numa lista interminável de grandes filmes?

Pois é (risos). E só de imaginar que tudo começou há apenas três anos com A Árvore da Vida, do Malick,…

Sim, aqui mesmo em Cannes onde tivemos aliás uma conversa num dos bares da praia. Sente que agora está menos stressada, pois na altura parece que tudo lhe estava a acontecer?

Acho que poderemos dizer isso. Pelo menos eu sinto maior confiança. Nessa altura, posso dizer-lhe, tinha muito menos confiança. Para mim era tudo novidade. Por exemplo, nunca tinha dado entrevistas, não fazia ideia como seria a estreia num festival como o de Cannes. 

A sua vida agora é, digamos assim, um sonho tornado realidade?

Toda a minha vida quis ser atriz, mas não sabia o que isso significava até acontecer comigo. Isto porque as possibilidades de acontecer algo como sucedeu comigo são mínimas. 

Já não se sente como uma outsider?

Outsider não diria, mas tenho alguma dificuldade em assumir o estereótipo da estrela de cinema. Não me sinto nada assim. Gosto mais de falar sobre filmes. E aproveito o festival para ver filmes. Prefiro isso do que posar para a fotografia.

O Ned (Benson, o realizador) disse-me que conheceu há alguns anos uma atriz que o abordou na estreia do seu primeiro filme a dizer que queria trabalhar com ele. Ela chamava-se Jessica Chastain…

(risos) Pois foi. Fui a primeira fã dele. É uma história engraçada porque eu tinha acabado de me formar na Julliard (famosa escola de música artes cénicas, de Nova Iorque) e tinha acabado de me mudar para LA, cheia de esperanças. Ia ao volante do meu Honda Civic quando ouvi na rádio um passatempo a oferecer bilhetes para um festival de cinema em Malibu. Não é que liguei e ganhei um convite? “Um sinal!”, imaginei eu. Então acabei por ver vários filmes, mas também as curtas metragens, algo que  ninguém vê. E foi aí que vi i filme do Ned Benson. Gostei do tom e da sensibilidade. Então, envergonhada, abordei-o e ofereci-me para trabalhar com ele. 

Ou seja, estava já a ser a sua própria agente…

Exactamente. Mas acho que a única coisa que tinha no meu CV era uma peça de Shakespeare em que tinha participado em Nova Iorque. E uma aparição mínima da série Serviço de Urgência. Entretanto, ficamos amigos. 

Entretanto tem uma lista impressionante de filmes em diversos estádios de produção. Como é que consegue lidar com todas essas solicitações?

Acho que é por gostar tanto daquilo que faço. É claro que fico exausta, mas aquilo que fiz com o Ned há dez anos atrás não me importo de fazer aqui mesmo no festival. 

E teve a oportunidade de trabalhar com o Chris Nolan, em Interstellar, um dos realizadores mais em demanda em Hollywood…

Sim, foi fantástico poder participar em Interstellar. É um realizador intenso e muito inteligente. Todas aquelas ideias científicas sobre espaço em continuidade eram fascinantes. Por exemplo, se lhe fazia uma pergunta, ele dava uma resposta super completa. 

Ele deu-lhe algumas pistas do que iria ser o filme?

Eu li o guião e foi tudo. Mas acho que é um filme que irá surpreender muita gente. O Nolan é incapaz de fazer um mau filme. Adorei fazer o filme, que é muito emotivo.

E com James McAvoy gostou de trabalhar com ele em Eleanor Rigby?

Foi um pouco intimidante. Só que é tão fácil trabalhar com o James. E ele é muito divertido. Apesar de só o ter conhecido nessa altura era como se nos conhecêssemos há dez anos. 

No filme, acaba de perder um bebé. Como foi entrar na pela dessa mulher ferida?

Como no filme já a vemos no momento imediato após essa perda, o que vemos é a forma como ela tenta reinventar-se. De uma forma ela está mutilada. Ajudou-me muito ter lido vários depoimentos de mulheres que perderam crianças. 

Apesar de se tratar de um momento trágico, sentiu que essa expectativa de esperar uma criança era algo por que gostaria de passar?

Sem dúvida. Sempre quis ser mãe. E era a minha própria mãe quem me dizia que eu assumia muitas vezes o papel de mãe. É claro que quero viver no presente, porque muitas coisas estão a acontecer ao mesmo tempo, mas tenho a certeza de que quero ser mãe. 

Acha que agora que está numa posição em que controla mais a sua vida essa realidade poderá tornar-se mais possível?

É verdade, mas eu acho também que não tem de ser necessariamente assim. Há muitas mulheres que se lamentam sobre a oportunidade de ter filhos. Ei compreendo, muitas vezes a nossa vida não nos proporciona o tempo que desejamos para cuidar das crianças, mas acho que é um dom ter filhos. E incluo aqui as mães que não tiveram essa possibilidade e adoptaram crianças. 

É claro que se a Jessica tivesse agora uma criança os seus produtores iriam subir pelas paredes acima pois tem vários projetos agendados…

Pode ser, mas acho que a gravidez é algo que transforma uma mulher. Veja o exemplo da Scarlett Johansson, está tão bonita. 

Gostava de perguntar-lhe que tipo de significado tem para si o tema Eleanor Rigby, dos Beatles, e que dá também nome ao filme. De que forma essa canção se relacionou com a sua personagem?

É interessante a pergunta, porque segundo o guião a Eleanor foi concebida como um ato de amor. Isto porque os seus pais conheceram-se num concerto dos Beatles. E como o apelido do pai era Rigby eles decidiram dar-lhe o nome de Eleanor. Isto apesar do tema dos Beatles ser triste.

É verdade que teve de perder peso para fazer o filme?

Foi verdade sim senhor. Talvez para e sentir ainda mais triste. E acredite que estava depois de uma semana a beber sumos… (risos) Sentia-me miserável. 

Qual o significado que a idade tem para si? De que forma influencia os seus filmes? Para algumas atrizes isso é um  problema…

Eu não tenho quaisquer problemas com o passar dos anos. E assumo que quero ser mãe.