"O que propomos no nosso trabalho são duas estratégias novas e complementares, dirigidas para o que se chama a cura funcional da infecção pelo VIH", relatou hoje à agência Lusa Pedro Borrego, investigador do Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz.
A investigação integra-se nos trabalhos de desenvolvimento de novas soluções e estratégias para a cura de infecções virais crónicas, nomeadamente VIH, hepatite B e hepatite C.
Foi o trabalho escolhido para ganhar 100 mil euros por um painel de cientistas internacionais que integram o programa Partnering for Cure, uma iniciativa pioneira na Europa apoiada pela Bristol-Myers Squibb.
A distinção é divulgada a dois dias do Dia Mundial de Luta Contra a Sida, assinalado na segunda-feira.
As estratégias propostas são baseadas em terapia genética, ou seja, "o agente terapêutico que vai desenvolver a actividade terapêutica é material genético, genes ou fracções de genes", e esta actividade será dirigida para dois alvos de acção complementares, explicou Pedro Borrego.
O investigador avançou que um dos alvos "vai actuar na entrada do vírus em células novas, que não estão infectadas, impedindo essa entrada, e outro [será] dirigido para a latência do vírus, em células que já estão infectadas".
Para prevenir a entrada do vírus em novas áreas será utilizada uma pequena proteína que vai ligar-se às partículas virais no exterior da célula, impedindo que ele se ligue e infecte uma nova célula.
"Complementarmente, vamos actuar também nas células que já estão infectadas, através de um sistema novo de edição genómica, vamos provocar alterações no genoma próviral do vírus que existe na célula infectada e, ao provocar essas alterações, vamos tornar a expressão do vírus defectiva, isto é, vamos impedir a correcta expressão do vírus na célula já infectada e impedir que produza novos vírus infecciosos", especificou o cientista.
A principal importância apontada nesta abordagem relaciona-se com o facto de, na infecção pelo VIH, haver estabelecimento de reservatórios virais, em diferentes tipos de células ou locais anatómicos, como tecido linfático, onde o vírus continua a replicar-se, de uma forma estável e persistente ao longo do tempo, mesmo na presença de terapêutica anti-retroviral e de respostas do sistema imunitário.
O trabalho proposto é um estudo pré-clínico, o que quer dizer que vai ser desenvolvido e estudado 'in vitro' e não integra teste e aplicação das estratégias em ensaios em animais, o que será realizado somente numa fase posterior.
Na solução proposta, "vamos dar elementos para a própria célula produzir estes agentes terapêuticos, os quais depois vão actuar nas duas fases distintas do ciclo de replicação viral", resumiu Pedro Borrego.
Lusa/SOL