Presume-se que sejam oriundas da Ásia Menor, Balcãs e Cáucaso, acompanhando a história da civilização ocidental desde há mais de 100 mil anos. O homem pré-histórico utilizou-a na sua alimentação, e na dos animais.
Ainda hoje o porco bísaro transmontano, uma das grandes especialidades de carne portuguesa, é essencialmente alimentado a castanha, como o porco preto alentejano (ou espanhol) o é a bolota.
Este fruto seco tinha lugar nos banquetes da antiguidade, e nas cozinhas dos mosteiros medievais. Na Idade Média, moída em farinha, tornou-se mesmo base da alimentação de toda a Europa.
Mas seria no Renascimento, e em França, que assumiria a forma gastronómica mais requintada: a marron glacé, que passou rapidamente para Espanha, e chegou a Portugal com as invasões francesas – mantendo-se ainda hoje como uma das especialidades de Natal mais apreciadas.
Embora a castanha seja uma semente (do tal interior do ouriço) como as nozes, e como as nozes um fruto seco, é destes o menos gorduroso e calórico (221 kcal/100 g). Em compensação, a sua constituição baseia-se em amido (um hidrato de carbono, que surge aqui sensivelmente no dobro das batatas), água (que se evapora quando é cozinhada de cascas cortadas) e potássio. Está portanto mais próxima dos cereais, por composição, não por familiaridade. Composição nutricional (por 100 g): 571 mg de potássio; 1,3 g de gordura; 45,5 g de hidratos de carbono; 39,5 g de água; 211 calorias.
Portugal é um dos principais produtores de castanhas do mundo, sobretudo na região transmontana (a martainha, castanha clara) e Beira Alta (Trancoso, onde existe essencialmente a espécie longal, castanha-encarniçada e com estrias longitudinais escuras). Até há quem lhes chame o 'petróleo de Trás-os-Montes'.
Como outros cultivos florestais, os castanheiros são atacados por pragas e doenças (fungos e a vespa do castanheiro). Outros grandes produtores são a Itália e a Turquia. Mas a sua produção internacional tem diminuído nas últimas décadas, enquanto cá continua a ser um bom negócio para os produtores. Segundo uma estratégia internacional concertada, a produção portuguesa deverá chegar aos 40 mil hectares de soutos.
O mercado nacional absorve ainda anualmente entre 5 a 6 mil toneladas de castanhas. E os produtores lançam-se nas exportações, normalmente a preços melhores. Calcula-se que cerca de 15 mil toneladas sejam exportadas.
Embora a castanha seja a imagem do Dia de S. Martinho («No dia de S. Martinho, lume, castanhas e vinho»), este antigo bispo de Tours, e ex-soldado romano, nada teve que ver com castanhas.
Ex-líbris do outono e Inverno lisboeta
“Cheira a castanha assada se está frio / Cheira a fruta madura quando é Verão”. Estes dois versos de um fado de César de Oliveira (letra) e Carlos Dias (música), escrito para Amália, já dizem tudo. Depois, há ainda o pregão dos vendedores: “Quem quer quentes e boas”.
Não se sabe quando começou, será desde sempre, na memória colectiva, e não apenas em Lisboa, mas nas principais cidades do país. Mal chega o Outono, aí temos as esquinas da cidade com os carros dos vendedores ambulantes a fumegarem de branco (diz-se que por causa do sal), até aos calores de Maio, e os turistas reconhecem que estas nossas castanhas, bem cortadas, de casca cinzenta clara da fuligem, e amarelas por dentro, são bastante melhores do que as vendidas por ruas de Espanha, França ou Itália.
O São Martinho (11 de Novembro) dá-lhes um vigor especial, e a Feira da Golegã, embora virada especialmente para o mundo equestre, mantém a tradição bem acesa.
Há uns vendedores melhores do que outros. Ainda há dias, no Saldanha, a dúzia que comprei foi quase toda para o lixo, podres. Mas na porta do Centro Comercial das Amoreiras não resisto, e saio-me normalmente bem: quentes, grandes, bem assadas, boas. Mantêm-se há anos a 2€ a dúzia.