Em Portugal, as reacções variam conforme os atingidos pela Justiça. Se é o BPN e Oliveira Costa, Duarte Lima ou Isaltino Morais, a Operação Furacão ou o colapso do BES de Ricardo Salgado – nesses casos vale tudo: revele-se tudo, esgravate-se tudo, especule-se tudo. Porque o dever de informar a opinião pública e a necessidade de transparência democrática sobrepõem-se a quaisquer pruridos judiciais ou impedimentos legais. Já se é o Freeport, a Face Oculta ou a detenção de Sócrates, aqui d'el-Rei! que estão a violar o segredo de Justiça, a devassar a privacidade dos arguidos, a pôr em causa o bom nome dos visados, a antecipar julgamentos na praça pública.
Deixemo-nos de hipocrisias. Ninguém achincalhou Sócrates no aeroporto, pois não há uma única imagem dele a ser detido. E o que o SOL fez – mais uma vez com rigor, isenção e antes de todos os outros – foi revelar que Sócrates acabara de ser detido e porquê, sem alimentar intrigas ou especulações. Chama-se a isto investigação jornalística. E da melhor. Chama-se a isto cumprir o lema da nossa profissão: a obrigação de informar acima da preocupação com o segredo de Justiça. Não haveria, aliás, caso Watergate se o Washington Post e o vice do FBI, Mark Felt, não tivessem ignorado o segredo de Justiça e colocado em primeiro lugar a obrigação de relatar a verdade e a gravidade dos factos.
No que respeita a muitos dos jornalistas e comentadores mediáticos que vieram a terreiro nestes dias, não deixa de causar alguma aflição vê-los, nestes momentos que definem os valores desta profissão, a formar um coro de virgens invejosas das fontes privilegiadas e das notícias que outros, como o SOL, conseguem ter e não se inibem de dar.