"O cone do vulcão apresenta quatro crateras, sendo que duas se encontram dentro da grande cratera, uma acima e outra mais abaixo e é precisamente através da fissura de baixo que estará a alimentar o grande rio de lava que corre em direcção a Portela", explicou o geólogo da Universidade de Oxford Princeton, no Reino Unido.
Ricardo Ramalho e o também geólogo português José Madeira, do Departamento de Geologia da Universidade de Lisboa, deslocaram-se a Cabo Verde para acompanharem no terreno a erupção vulcânica que está há mais de uma semana a afectar a Ilha do Fogo, sem provocar vítimas, e colaborarem com as autoridades cabo-verdianas.
Ricardo Ramalho adiantou à Lusa que, no cone do vulcão, "existe uma fissura ao longo do qual se desenvolvem várias crateras e que estão a expulsar material explosivo".
Ao longo do dia, a lava foi avançando, ora mais lentamente, ora com mais velocidade, em direcção a Portela, a localidade que acolhia o maior número de residentes de Chã das Caldeiras, planalto que serve de base ao vulcão da ilha cabo-verdiana do Fogo e que entrou em erupção a 23 de Novembro passado.
Na localidade, o coordenador das operações do Serviço Nacional de proteção Civil de Cabo Verde adiantou à Lusa, no final do dia de hoje, que a lava continua a avançar, embora agora de forma mais lenta.
"Estão mais lentas, mas a avançar, tal como ao início da noite de ontem [segunda-feira]. Mas, se a lava continuar a ser expelida, a velocidade pode aumentar com o entrar da madrugada, como na noite passada", constatou Nuno Oliveira.
Segundo o mesmo responsável, com o chegar da lava à igreja e à cooperativa de Portela, o "rio" pode aumentar a velocidade, tendo em conta a descida em direcção a Bangaeira, localidade já evacuada e no declive nordeste da ilha e que tem, mais abaixo, a povoação de Relva, antes de poder chegar ao mar.
Na localidade de Portela encontra-se apenas o contingente de segurança, composto por elementos da polícia nacional, das Forças Armadas, da Proteção Civil e voluntários da Cruz Vermelha, que estão também a apoiar os trabalhadores da adega cooperativa de Chã das Caldeiras, uma vez que os habitantes que ao longo do dia estiveram pelas encostas já se foram embora.
Até ao momento, as lavas já fizeram desaparecer a sede do Parque Natural do Fogo, a escola de dois andares da localidade de Portela, assim como mais de três dezenas de habitações, cisternas, currais, casas de apoio à agricultura e uma extensa área de agricultura e pastorício.
Não há, no entanto, qualquer vítima a registar.
Lusa / SOL