O socialista e ex-deputado Júlio Meirinhos, o novo grão-mestre da Grande Loja Legal de Portugal (GLLP), a maçonaria regular portuguesa, afastou do topo da hierarquia o seu colega de partido e antigo assessor jurídico de José Sócrates, Rui Paulo Figueiredo.
Este, assim como o próprio Meirinhos, ocupou nos últimos quatro anos o cargo de vice-grão-mestre, tendo conquistado algum poder para esta obediência maçónica por ter na época acesso directo ao ex-primeiro- ministro. Agora Meirinhos, decidiu remetê-lo para o cargo de responsável pela comunicação externa (grande correio mor, na linguagem maçónica) da GLLP e nomeou para seus números dois o social-democrata António Motta Veiga e o coronel reformado Félix Lopes.
As opções do grão-mestre estão, de resto, a gerar polémica interna. «Alguns dos nomes que escolheu para integrar o que chamamos governo maçónico não são bem compreendidos», diz ao SOL fonte da GLLP, sublinhando que entre os novos governantes (designados de oficiais) está, por exemplo, o advogado Rogério Tavares, que pertence à famosa Loja Mozart. Esta esteve sob polémica por juntar espiões, políticos e elementos do grupo Ongoing, e não agradava ao grão-mestrado anterior liderado por José Moreno (do qual Júlio Meirinhos era vice).
Segundo várias fontes maçónicas, há um «mau-estar instalado» devido a várias decisões do novo líder, como a de querer alterar os estatutos actuais, «deixando de fixar limites para o número de mandatos possíveis do grão-mestre». Por outro lado, alegam, Meirinhos nomeou um número de governantes superior ao que está previsto nas normas internas. «Há cargos que têm quatro vices, o que não é permitido» – esclarece outra fonte, explicando que a proposta de alteração dos estatutos será agora analisada no interior das 110 lojas, prometendo gerar contestação.
Deputado faltou à cerimónia
Devido a este clima de tensão, muitos maçons não estiveram presentes na cerimónia de tomada de posse dos 65 elementos que integram o novo governo maçónico da GLLP, que decorreu no sábado passado, na antiga sede da obediência (um primeiro andar de um prédio em Alvalade, em Lisboa). Entre os ausentes, contou-se Rui Paulo Figueiredo – que já liderou o PS/Lisboa e actualmente é deputado.
A polémica interna surge numa altura em que a maçonaria voltou a estar nas páginas dos jornais devido ao caso dos vistos gold, por alguns dos arguidos serem dados como membros de lojas maçónicas. «Querem meter a maçonaria em todos os casos de justiça», critica ao SOL um maçon, garantindo que nenhum dos envolvidos neste processo que atingiu altos dirigentes do Estado pertence às duas maiores obediências maçónicas. Ao SOL, fontes da GLLP e também do GOL (Grande Oriente Lusitano), confirmam que nenhum dos arguidos daquele caso consta das listas internas, pelo menos das lojas oficiais.
Enquanto decorria no sábado a tomada de posse do novo executivo maçónico, alguns maçons estavam com o Patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, num almoço-debate nesse dia, no Bar do Além, um local esóterico no Parque de Campismo de Alenquer, pertencente ao antigo grão-mestre da GLLP, Nandim de Carvalho. «D. Manuel Clemente falou do Papa e da abertura que representa», contou ao SOL um dos presentes.
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