O terror da classe política

Vou a França, para uma reunião do ‘Clube de Nice’, sobre ‘Energia e Geopolítica’. Voo de Lisboa a Marselha e dali, de comboio, a ver, através da chuva forte do fim de Novembro, estas cidades e praias míticas da Côte d’Azur – Saint Tropez, Saint Raphael, Cannes, Antibes, até Nice. 

Mas o fim-de-semana 'energético', com reflexões estratégicas sobre o cocktail das fontes de energia, o shale gas americano e as consequências da queda do crude, coincide com um fim-de-semana político da direita – ou melhor – das 'direitas' francesas: em Nîmes, a UMP  (União para um Movimento Popular) reelegeu Nicolas Sarkozy com dois terços dos votos; em Lyon, a Frente Nacional (FN) confirmou a liderança de Marine Le Pen, por unanimidade. 

As duas direitas, a direita conservadora e liberal da UMP e a direita nacionalista da FN, estão também a escolher o futuro Presidente da República, já que, neste momento, ninguém pensa possível que François Hollande, arruinado pelo estado do país e pelo escândalo e o ridículo das suas conturbadas peripécias sentimentais, possa pensar em reeleição.

Sarkozy foi claro, num discurso de fundo em que pegou nos temas da Frente Nacional, da sua intenção de se aproximar dos eleitores da direita: sobre a Europa, foi eurocéptico e gaullista; sobre a imigração, foi restritivo; sobre os costumes, afirmou-se contra o “mariage pour tous”. E falou em “La France” e em “La nation française”, procurando entoações à De Gaulle.

Sarkozy quer, com este discurso, arrancar a Le Pen e à FN os temas do patriotismo francês, da defesa da família, do euroceptismo, temas 'de direita nacional'. No mesmo fim-de-semana, em Lyon, Marine Le Pen era confirmada, como a primeira e única líder da direita nacional francesa. Desde as eleições europeias que a Frente Nacional é o primeiro partido de França e é unânime a convicção dos institutos de opinião e sondagens que ela passará em primeiro lugar à segunda volta das presidenciais. Também é facto assente, que o actual ocupante do Eliseu, François Hollande, ou outro candidato de esquerda, têm pouquíssimas chances de ir à final.

Assim sendo, Marine deverá ter como adversário o candidato da UMP, seja Sarkozy, sejam os 'centristas' Alain Juppé ou Bruno le Maire, que obteve cerca de 30% dos sufrágios em Nîmes. 

Daí a importância da competição por esse lugar – o mais ambicionado – ser o candidato da direita do sistema, aquele que melhor poderá recolher na segunda volta os votos contra Marine, jogando na 'demonização da FN', como fez Jacques Chirac, contra o pai, Jean-Marie Le Pen em 2002. 

Mas outra questão, talvez principal, é que, como mostram os inquéritos e sondagens publicados neste fim-de-semana pelos media, os 'simpatizantes do FN e da UMP' querem acordos eleitorais contra a esquerda e cada vez mais “partilham os mesmos valores”. Por isso, como escreve na capa o semanário Valeurs Actuelles, “Marine Le Pen aterroriza a classe política!”.