RTP: Método longo e inédito para escolher nova administração

Os novos membros do conselho de  administração da RTP – que irão ser nomeados pela primeira vez pelo recém-criado Conselho Geral Independente (CGI) e não pelo Governo, como sempre aconteceu – só tomarão posse após audição na Assembleia da República. Pelo que se prevê ainda um longo caminho até este dossiê estar concluído.

Para já, terá que ser marcada uma assembleia geral (cuja data era desconhecida, ontem), em que  estará presente o accionista Estado e onde, formalmente, será concretizada a destituição de Alberto da Ponte – o presidente que nunca teve uma relação fácil com o ministro da tutela, Poiares Maduro, e que levou a que  o contrato de concessão de serviço público estivesse durante meses empatado em negociações.

Duas semanas debaixo de fogo

O afastamento da actual administração culminou duas semanas em que a RTP viveu sob fogo. A quinzena negra começou a 19 de Novembro, com a  polémica sobre a aquisição dos direitos de transmissão da Liga dos Campeões – em que o próprio ministro Marques Guedes repudiou publicamente a decisão -, e continuou com o CGI da RTP a não aprovar o projecto estratégico para a empresa submetido pela administração de Alberto da Ponte. 
Na segunda-feira, o CGI – presidido pelo vice-reitor da Universidade de Lisboa, António Feijó – emitiu um comunicado em que considerou "inaceitável" o projecto estratégico, por, entre outras razões, "conter contradições internas insanáveis". Nesse mesmo documento, o CGI analisou o processo que levou à compra da Liga dos Campeões (por um valor não confirmado oficialmente e que se estima ser de 15 milhões de euros). E foi contundente: considerou  que a compra desses direitos – "pelo montante financeiro envolvido", "pelas implicações na grelha de programação" e "pelo alcance concorrencial" – é "de natureza estratégica".  Logo, conclui-se, deveria ter sido submetido ao CGI.  No entanto, este órgão salienta que só tomou conhecimento do facto "pela imprensa". 
Tudo somado, o CGI concluiu que "o dever de colaboração e o princípio de lealdade institucional que lhe subjaz foram violados pelo CA".

Os nomes e poderes do CGI
A partir daí foi um pequeno passo até à decisão anunciada anteontem à tarde, de o CGI propor ao Estado, accionista da RTP S.A,  a destituição do conselho de administração – o que foi prontamente aceite pelo Governo. Pelo meio, os directores de grelha da televisão pública pediram à ERC que se pronuncie sobre a compra dos direitos da Liga, alegando tratar-se de uma questão editorial, sendo a actuação do CGI uma ingerência. 

Depois das tentativas de privatização da RTP – durante o período em que Miguel Relvas tutelou  a televisão pública – passou-se para a desgovernamentalização, proposta pelo novo responsável, Poiares Maduro. Para o novo ministro,  o processo de libertação da empresa em relação a interferências do Governo é garantido pelo CGI, um novo órgão saído da sociedade civil e que decidirá sobre opções estratégicas. Ao CGI foi também concedido o poder de demitir e nomear administrações.

Em Setembro, com a nomeação do presidente deste órgão composto por seis elementos, e terminadas as vagas de rescisões de contratos, a RTP até parecia viver um momento de tranquilidade. 

Desconhecido de muitos portugueses e agora com um grande poder no futuro da RTP, o CGI, além do presidente, é integrado por Simonetta Luz Afonso (ex-directora do Instituto Camões e ex-presidente da Assembleia Municipal de Lisboa), Álvaro Dâmaso (ex-presidente da Anacom), Diogo Lucena (antigo administrador da Gulbenkian), o catedrático Manuel Pinto (professor de Ciências da Comunicação na Universidade do Minho) e Ana Lourenço (docente da Universidade Católica). 

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