Os ódios virtuais a este género de conteúdos (que são o que mantêm as plataformas informativas a funcionar com um volume de tráfego razoável, para que possam também noticiar as coisas 'importantes') reflectem a necessidade que o cidadão comum manifesta em querer manter-se informado com muita qualidade, maximizando todo o tempo que afinal de contas desperdiça a jogar Candy Crush.
Os tempos são de ansiedade e stress, de altíssima reactividade, de grandes julgamentos, exposições em praça pública e de defesa da propriedade intelectual, o que, trocado por miúdos, é mais ou menos isto: os tempos são de expressão virtual livre e descontrolada, logo permeável e de ampla exposição, e as redes sociais não ajudam quem deseja manifestar-se de forma acutilante e precipitam-nos para julgamentos de valor ao mais puro estilo de castelos de vento.
Ainda assim, no meio de tanta informação tão indigna dos olhos do leitor, há alturas em que surgem notícias capazes de nos fazer pensar de forma leve (porque nem tudo tem de ser sério), em questões tão simples como o já clássico 'mudam-se os tempos, mudam-se as vontades'.
Numa fotografia de 2009, podíamos ver as filhas góticas de Zapatero numa visita oficial à Casa Branca, junto a Barack e Michelle Obama. A fotografia correu mundo, «porque num acto oficial, as filhas de um primeiro-ministro não deveriam vestir-se assim, de preto». Acontece que acaba de suceder o mesmo, mas por ocasião do Dia de Acção de Graças e relativamente às filhas do casal Obama: num vídeo que circula pela internet, Malia e Sasha, de 16 e 13 anos, respectivamente, acompanham o pai como filhas adolescentes que são, vestidas de adolescentes, cheias de atitudes adolescentes num acto oficial dentro do estilo Obama: descontraído.
Indigna-se, num post de Facebook, a responsável pela comunicação de um congressista do Tennessee e está o caldo entornado: a onda que Elizabeth Lauten levantou por causa das meninas foi esmagada pelo tsunami de apoiantes da família Obama, que se apressou a defender a jovialidade e descontracção próprias da idade das filhas do Presidente.
E isto interessa porquê? – perguntam-se os leitores ávidos de conteúdos a sério, como a detenção da canalhada toda que destruiu o país – interessa porque talvez esta seja uma forma eficaz de, através da demonstração, se começar finalmente a entender que os adolescentes se expressam e deixam transparecer grande parte do que é a sua personalidade através da forma como se vestem, que comunicam quem são e aquilo de que gostam através dos mesmos códigos que os adultos, só que de uma forma mais violenta e menos depurada, porque, lá está, são adolescentes. Interessa porque é possível que, através da demonstração, se entenda que afinal somos todos iguais.
Quer sejam as filhas de Zapatero ou de Obama, dos reis de Espanha ou da família real do Mónaco, todos são indivíduos que, tal como nós, desde cedo começam a ser treinados no sentido de respeitar, integrados num apertado sistema de regras, um sistema com o qual não têm de concordar, porque ideologicamente podem preferir outros sistemas, uma vez que a sua preparação intelectual lhes permite precisamente isso: discordar.
No mais recente vídeo viral associado ao Presidente dos EUA, não só se pode apreender de forma ligeira a transversalidade do conceito de 'família normal', como se pode aprender a aceitar que o protocolo, seja ele qual for, muda à medida que o tempo muda, por muito que se queira comunicar formalmente através de cânones estéticos a idoneidade da prole.
joanabarrios.com