Foram dias de alguma tensão, com evacuações e regressos clandestinos para proteger casas e bens e até algumas tentativas de assalto. Imagens típicas de refugiados – neste caso, debaixo de um vulcão, que não fez vítimas, mas provocou mais de 1.500 deslocados, número que poderá triplicar se a actividade vulcânica se mantiver na pequena ilha de apenas 476 km2 e com cerca de 40 mil habitantes.
Dia 0 – 22 de Novembro
Ao longo do dia, os sensores instalados na Chã das Caldeiras começam a tocar no 'vermelho'. São sentidos os primeiros tremores de terra.
Dia 1 – 23 de Novembro
Primeira erupção do vulcão às 09h45. As autoridades declaram o alerta máximo na ilha. É a 27.ª erupção desde que há registo – a primeira data de 1500.
As primeiras informações são confusas, até que o Governo de Cabo Verde declara o estado de calamidade. O Presidente e o primeiro-ministro cabo-verdianos, Jorge Carlos Fonseca e José Maria Neves, apelam à calma e serenidade.
A primeira boca do vulcão é em Pico Novo, próxima da que explodiu em 1995. Um mar de lava ocupa a zona sul de Chã das Caldeiras, próximo da entrada do Parque Natural do Fogo. Começa a retirada da população.
Dia 2 – 24 de Novembro
A intensidade das erupções vulcânicas aumenta e a lava espalha-se rapidamente para a zona norte de Chã das Caldeiras, avançando a uma velocidade de quase 200 metros por hora.
Habitantes de Portela recusam abandonar a povoação: têm medo de pilhagens, como aconteceu em 1995.
Areias pretas e nuvens de cinza invadem o Fogo, sobretudo São Filipe, a maior cidade da ilha. Mais de 5.000 toneladas de dióxido de carbono e dióxido de enxofre são expelidos para a atmosfera, gases que não são muito nocivos para o homem dado que sobem pela atmosfera. Mas é recomendado o uso de máscaras.
Dia 3 – 25 de Novembro
Primeiros sinais de que a erupção terá maiores consequências do que em 1951 e 1995: aumenta a intensidade das erupções. As bocas do vulcão já são seis.
Em três dias, a lava percorreu quase oito quilómetros e pára a 30 metros da primeira casa de Portela. Aí, apenas ficaram os homens. Tudo é retirado das casas – camas, mesas, janelas, até tomadas eléctricas. Os bens são transportados, a pé, para a encosta sobranceira a Portela.
Dia 4 – 26 de Novembro
A lava 'encosta' a Portela, onde chega a atingir cinco metros de altura. Cabo Verde pede auxílio internacional.
Dia 6 – 28 de Novembro
Habitantes tentam regressar a Portela, mas são obrigados a sair.
Dia 8 – 30 de Novembro
As erupções evoluíram para o 'estado crítico'. A lava avança a 20 metros por hora.
A sede administrativa do Parque Natural do Fogo é totalmente consumida pela lava.
Dia 10 – 2 de Dezembro
De madrugada, a frente de lava voltou a ganhar velocidade e destrói todo o lado norte de Portela.
O Governo reforça medidas de segurança na zona mais afectada.
Dia 11 – 3 de Dezembro
Vulcão dá tréguas. E é o dia em que director do Instituto Tecnológico e das Energias Renováveis das Canárias, Nemesio Pérez Rodriguez, critica a “inércia” das autoridades cabo-verdianas na prevenção da erupção vulcânica, alegando ter dados desde Março que apontavam para uma situação preocupante.
Dia 12 – 4 de Dezembro
Vulcão mantém-se em 'lume brando'. Fragata portuguesa Álvares Cabral chega ao largo de São Filipe. Transporta sismógrafos mas também medicamentos, alimentos, casas de banho portáteis, cobertores, colchões, água e máscaras, entre outro equipamento de emergência.
Dos cerca de 1.500 desalojados de Portela, cerca de 850 estão instalados nos três centros de acolhimento e os restantes dispersos por casas de familiares e amigos.
Dia 15 – 7 de Dezembro
Portela e Bangaeira são apagadas do mapa. Ficam cobertas de lava, que agora tem uma frente de 300 metros de largura e chega a atingir oito metros de altura.
Preocupação centra-se no rumo da lava, que pode atingir várias povoações.
Dia 16 – 8 de Dezembro
A actividade vulcânica diminui. Primeiro-ministro admite que mais populações poderão ser retiradas de suas casas.
Governo propõe subida do IVA de 15% para 15,5%, de maneira a garantir verbas para a reconstrução na ilha.
Dia 17 – 9 de Dezembro
Segundo dia consecutivo de acalmia. Presidente cabo-verdiano propõe um dia de salário para apoiar reconstrução. Chega Hércules C-130 da Força Aérea Portuguesa com duas ambulâncias.
* exclusivo Lusa/SOL