Chegou a hora de manifestar a minha desilusão. Parecia-me que no estado em que estava o DN, ainda por cima dirigido por uma pessoa vinda do desporto (onde o jornalismo é definitivamente diferente do que esperamos de um jornal de referência), e a concorrência única que cá conheço, a do Público, que não parece viver nos seus melhores tempos (os quais indiscutivelmente foram os da fundação e da direcção de Vicente Jorge Silva), não seria difícil melhorá-lo substancialmente. Mas não. Mantiveram o melhor que vinha de trás (como os artigos de Ferreira Fernandes e do próprio Macedo), alinhavaram uns destaques diários desconexos, alargaram exageradamente a Cultura (sem sequer se preocuparam com um equilíbrio entre o mainstreem e o mais sofisticado, como se esperaria num diário vocacionado para uma circulação grande – mas também aqui foram imediatamente acompanhados pelo Público, não contente em ter um bom suplemento cultural às 6ªs-feiras).
Mas o que me parece pior de tudo é a escolha de um colunista regular espanhol, sem e menor qualidade intelectual e de escrita, que afirmando-se de direita, e católico, não parece perceber sequer o que têm sido nas últimas décadas a direita e o catolicismo.
Vem isto a propósito de uma resposta oportuna que lhe deu, no próprio DN (valha-lhe o indiscutível pluralismo), Freitas do Amaral, por causa de um artigo em que o referido articulista espanhol (não lhe fixei o nome, mas não me parece necessário fazê-lo) considerava ter chegado o ‘diabo ao Vaticano’, com o actual Papa Francisco mais as suas preocupações sociais. O articulista pretendia, na sua enorme ignorância, que os anteriores Papas, Bento XVI e João Paulo II, tinham sido menos diabólicos, por se mostrarem mais liberais dos pontos de vista económico e social.
Ora nisto se engana ele imenso: não só Bento XVI, mas também João Paulo II, sempre clamaram contra as politicas económicas hiper-liberais, que se puseram de moda em finais do Séc. XX e fizeram mergulhar o mundo numa crise em que os mais desfavorecidos foram obrigados a pagar a ganância descontrolada do hiper-liberalismo, ao mesmo tempo que defendiam maiores intervenções sociais dos Estados e dos mais favorecidos. As politicas democratas-cristãs definidas por Leão XIII continuaram a ser defendidas pelos seus sucessores, e são hoje mais oportunas do que nunca – porque já só os Papas e os católicos mais fervorosos as defendem, porque mesmo os socialistas moderados e sociais-democratas, desde pelo menos Blair, se passaram para o campo dessa moda liberal, que eu espero passageira, como todas as modas.