Linces libertados podem morrer por falta de alimento

O presidente da Federação Portuguesa de Caçadores (FENCAÇA), Jacinto Amaro, alertou para o risco que os linces ibéricos hoje libertados em Mértola correm, devido à falta de coelhos bravos, o seu principal alimento.

Ao início da tarde, foi libertado em Mértola um casal de linces ibéricos, um dos quais já nascido em Silves, que irão viver numa primeira fase num cercado e só depois reintroduzidos na natureza, naquela que é a primeira libertação de exemplares da espécie em território nacional.

Para Jacinto Amaro não estão, contudo, criadas as condições para que a reintrodução do lince na natureza tenha sucesso, uma vez que ainda não há solução para erradicar a doença que tem dizimado o coelho bravo, além do facto de grande parte dos proprietários, concessionários de zonas de caça e agentes turísticos estarem contra a medida

Para o presidente daquela federação de caçadores, quando saírem do cercado, os linces "estão condenados a morrer à fome" por falta de alimento, numa altura em que acontece a "pior fase" da doença dos coelhos.

Jacinto Amaro adiantou que em 2011 foram abatidos em caça cerca de 100 mil coelhos, no entanto, desde essa altura, houve uma mutação do vírus que ataca aquela espécie, o que agravou a mortandade dos coelhos bravos e fez com que praticamente nenhuma das zonas de caça ao coelho no concelho de Mértola tenha aberto nos anos seguintes.

"Isto só é bom para o Governo, que quer aparecer numa grande operação mediática", sublinhou, acrescentando que foi tudo feito de forma "apressada", sem o consentimento da maioria dos proprietários das herdades vizinhas àquela onde foram libertados os dois linces.

Para aquele responsável, este poderia ser um dia histórico se o Governo estivesse a anunciar uma forma de erradicação da doença que afecta os coelhos, mas, na realidade, trata-se de "pura demagogia" e de uma "operação de marketing".

Jacinto Amaro defendeu, ainda, que algum do dinheiro usado na operação devia ter sido canalizado para a realização de um estudo aprofundado sobre o estado da população de coelhos bravos e na investigação de uma possível cura para a doença.

Confrontado pelos jornalistas com estas críticas, o secretário de Estado do Ordenamento do Território e Conservação da Natureza, Miguel de Castro Neto, disse que tinha sido feito um censo quinzenal da população de coelho naquele território e que os dados recolhidos indicam que a população ultrapassa actualmente o mínimo considerado necessário para se poder reintroduzir o lince.

Lusa/SOL