Trabalhadores do sexo arriscam mais com companheiros do que com clientes

Um estudo divulgado hoje em Coimbra refere que 81,5% dos trabalhadores do sexo não usa preservativo na prática de sexo vaginal com parceiro estável e 52% não usa na prática de sexo anal.

"Os trabalhadores do sexo têm práticas de risco altas com os companheiros", em comparação com as práticas com clientes, em que cerca de 98% refere "usar sempre" preservativo, sublinhou Antónia Soares, doutoranda da Faculdade de Psicologia do Porto, que desenvolveu um estudo sobre "afectos, sexualidade e poder nas relações íntimas de trabalhadores do sexo".

Os trabalhadores do sexo que têm parceiros ocasionais (40%) referem também números mais baixos no uso do preservativo comparativamente com as práticas com clientes, referiu Antónia Soares, que apresentava os resultados nas I Jornadas Científicas sobre Trabalho Sexual, que decorrem hoje no Centro de Estudos Sociais, em Coimbra.

O projecto de doutoramento revelou que 40% dos trabalhadores recebem "quase sempre" propostas de sexo sem preservativo, 28% muitas vezes e 25% poucas vezes, disse Antónia Soares.

"81,5% refere que mesmo depois de ter sido negado, aquando da negociação, o sexo sem preservativo, os clientes tentam ter práticas de risco no momento em que se vai concretizar a relação sexual", apontou a investigação.

O estudo, que teve como amostra 121 trabalhadores do sexo "de interior" do Porto e Lisboa, contou com 43 trabalhadores do sexo masculino, 54 do sexo feminino e 24 transexuais, sendo que a média de idades é de 30 anos.

Dezoito por cento tinha mais do que "12 anos de escolaridade", 24% eram de nacionalidade portuguesa e 67% de nacionalidade brasileira.

"Quase a totalidade dos clientes" eram homens "e cerca de metade, 50,4% dos clientes, são habituais", explanou a investigadora.

Também presente nas jornadas, o mediador do Grupo de Activistas sobre Tratamentos de VIH/SIDA (GAT), Júlio Esteves, sublinhou que a questão de o trabalho sexual não ser aceite moralmente nem "aceite no plano legal" leva "a situações constrangedoras, em que as pessoas sofrem".

Júlio Esteves defendeu "serviços de saúde específicos para esta população", não podendo os trabalhadores do sexo "estar oito horas à espera de uma PPE [Profilaxia Pós-Exposição – tratamento iniciado após exposição ao VIH com o objectivo de evitar que o vírus entre no sistema imunitário]".

O activista frisou que relativamente aos transexuais que são trabalhadores do sexo estes encontram "recusas para serem tratados medicamente" e que nas instâncias policiais e judiciais "são tratados como culpadas mesmo sendo vítimas".

As Jornadas Científicas assinalam hoje o Dia Internacional Contra a Violência Sobre Trabalhadores do Sexo, sendo organizadas pela Rede sobre Trabalho Sexual (RTS), pelo Centro de Estudos Sociais (CES) e pela associação Não te Prives: Grupo de Defesa dos Direitos Sexuais.

Lusa/SOL