Poucos minutos depois de Obama ter revelado pretender “envolver o Congresso num debate sério e honesto sobre o fim do embargo”, já algumas das principais figuras do Partido Republicano faziam adivinhar as dificuldades que o Presidente terá em cumprir esse objectivo.
“Farei todos os esforços para bloquear esta política”, anunciou em comunicado Marco Rubio, senador que assumirá a chefia do comité para a Política Externa em Janeiro, quando a maioria republicana formada nas eleições intercalares de Novembro tomar posse no Capitólio.
Descendente de cubanos que fugiram da ilha depois de Fidel Castro assumir o poder, Rubio considera as medidas anunciadas “um retrocesso na esperança de democratização” de Cuba. E antecipa que “a aproximação aos irmãos Castro levará outros tiranos em Caracas e Pyongyang a perceber que podem aproveitar a ingenuidade do Presidente Obama nos dois últimos anos do seu mandato”. E, confirmando o estatuto de candidato a candidato presidencial republicano, Rubio acusa Obama de ser “ignorante sobre a forma como o mundo realmente funciona”.
Uma opinião que promete ser dominante em Washington. Ted Cruz, outro senador com ascendência cubana, fala num “muito mau acordo” que pode acabar em “desastre” para um povo governado por “ditadores brutais cujo único objectivo é manter o poder”. Jeb Bush, que no início da semana assumiu ter começado uma “exploração activa da possibilidade de concorrer à presidência”, diz que Obama voltou a “abusar dramaticamente da sua autoridade executiva”. O líder do Congresso, John Boehner, acusa as políticas do Presidente de “reforçar os Estados que apoiam o terrorismo”.
E mesmo entre as hostes democratas, que na sua maioria apoiaram a decisão de Obama, há vozes críticas, como a do actual líder do comité para a Política Externa, Robert Menendez: “Esta troca assimétrica de prisioneiros convida ao reforço da beligerância sobre os movimentos de oposição em Cuba”.
Aplausos externos
Mas se o assunto promete tornar-se novo foco de tensão entre democratas e republicanos, na comunidade internacional a notícia foi recebida maioritariamente com agrado. A União Europeia, através da representante para a Política Externa Federica Mogherini, celebrou o “início da queda de outro muro”, enquanto o secretário-geral da ONU falou de uma “notícia muito positiva” antes de apelar “à normalização das relações bilaterais”.
Elogios que chegaram até dos locais mais insuspeitos: em Moscovo, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Ryabkov, referiu o “passo na direcção correcta” ao lembrar que a Rússia não reconhece “legitimidade ou legalidade à imposição de sanções dos EUA a qualquer país”.
Já o líder venezuelano Nicolás Maduro disse “reconhecer o gesto de coragem do Presidente Obama” antes de falar de “uma vitória moral e histórica do povo cubano”. Uma leitura feita também pelo Partido Comunista Português, que em comunicado congratulou-se “com esta vitória de Cuba, que é uma vitória de todos os povos que lutam em defesa da sua soberania” e exigiu o fim do “criminoso bloqueio económico, comercial e financeiro dos EUA contra Cuba”.