O chamado doente zero, que foi descoberto quase por acaso, marca o início do surto. O homem terá começado a sentir sintomas a 12 de Outubro passado, praticamente um mês antes de as autoridades terem alertado para a infecção com a bactéria, a 7 de Novembro.
O caso só chegou ao conhecimento da Direcção-geral da Saúde (DGS) no final de Novembro. “Inicialmente, a médica que atendeu este doente, diagnosticou-lhe uma legionella esporádica. Só depois de o surto ser conhecido é que pensou que o caso poderia estar associado e notificou a DGS”, explicou ao SOL Cátia Sousa Pinto, chefe de Divisão de Epidemiologia e Estatística daquele organismo.
A DGS analisou então a ficha clínica desse doente, que nunca chegou a ser internado e foi tratado em casa com antibióticos. E confirmou que a bactéria que o infectara era a mesma detectada noutros doentes do surto, percebendo estar perante o primeiro caso conhecido de legionella em Vila Franca.
Até aí, as autoridades apontavam como 'doente zero' um homem do Porto, que também estivera em trabalho naquele concelho, tendo saído a 18 de Outubro.
Depois deste motorista, os casos foram surgindo a conta-gotas: dois dias depois, surgiu outro homem com sintomas e a 16 de Outubro um outro. Foram tratados em diferentes hospitais e o diagnóstico também não foi imediatamente relacionado com um surto. A situação só se tornaria explosiva três semanas depois, entre os dias 7, 8, e 9 de Novembro, quando o número de doentes a chegar ao hospital de Vila Franca duplicou de dia para dia.
40 casos ainda em análise
No balanço final feito esta segunda feira, a DGS adiantou que a legionella atingiu 375 pessoas, estando ainda por confirmar se outros 40 diagnósticos estão relacionados com a mesma origem. O que torna para já o surto português no terceiro maior do mundo, de acordo com a classificação do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC), logo a seguir aos de Barrow, no Reino Unido (2002) e de Múrcia, em Espanha (2001), que afectaram 494 e 449 pessoas respectivamente.
A grande maioria dos doentes de Vila Franca de Xira são homens (67%), tal como as vítimas mortais (nove dos 12 mortos). Os doentes infectados têm entre 22 anos e os 92 anos.
“Neste aspecto, o nosso surto é quase de compêndio: a idade média da população atingida (58 anos) e a percentagem de homens e mulheres corresponde à dos surtos descritos”, explicou ao SOL o director Geral da Saúde, Francisco George.
Mas, noutros campos, o surto português é exemplo de como a bactéria pode viajar pelo ar até 10 a 12 quilómetros. “A dispersão pode acorrer até esta distância máxima e isso aconteceu em Portugal”, remata Cátia Sousa Pinto, lembrando que a altura das torres de refrigeração que dispersaram a legionella, explicam como a bactéria percorreu tão grandes distâncias.