Rio, o profeta da desgraça

Rui Rio é um daqueles casos políticos que alimentam grandes expectativas sem nunca terem dado provas das inúmeras virtudes que lhes apontam. Já vimos este filme com figuras como Luís Filipe Menezes, Fernando Nobre, Manuela Ferreira e outros – que só na altura em que são obrigados a mostrar o que valem em cargos de…

Após 12 apagados anos autárquicos no Porto, em que pouco falou (e quando se esforçou por mostrar algum pensamento político foi para atirar pérolas como a proposta de a abstenção eleger lugares vazios no Parlamento), Rio é agora apontado – sem que se perceba porquê – como potencial líder do PSD, pretendente à Presidência da República, quiçá sucessor de Barroso no plano internacional. 

Nas últimas semanas, a propósito do lançamento de uma sua biografia promocional em livro, Rui Rio sentiu-se obrigado a expor um pouco mais a sua visão da política, do país e de si próprio. E, além de reconhecer modestamente que os temas que lhe ocupam a cabeça “se identificam mais com aquilo que compete ao PR do que propriamente ao Governo”, Rio não poupou em ataques demagógicos à Justiça, ao estilo de Marinho Pinto, a propósito da prisão de José Sócrates.

Num tom bacoco e tremendista, que faz lembrar aqueles profetas da desgraça que andam pelas ruas e parques a anunciar o fim do mundo para conseguirem atenção e audiências, Rio vem alertar que “Portugal caminha para uma ditadura sem rosto”. Pior, no entanto, são as comparações de mau gosto em que se espraia: “O poder económico manda mais hoje ou antes do 25 de Abril?”, “A Justiça garante mais os direitos dos cidadãos hoje ou antes do 25 de Abril”, “A censura orgânica que existia antes do 25 de Abril era mais opaca do que a censura inorgânica que existe hoje?”.

Só a ignorância histórica, uma fria insensibilidade tecnocrática a respeito dos direitos humanos e um lamentável atrevimento populista permitem tais perguntas. Que evocam, em tom salazarento, as cartilhas antidemocráticas. Inquietante, no mínimo.

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